»- Vejamos - disse Carlini, levantando-se por sua vez e aproximando-se do cadáver com a mão na coronha de uma das suas pistolas -, ainda há alguém que me queira disputar esta mulher?
»- Não - respondeu o chefe -, é tua!
»Então, Carlini tomou-a por seu turno nos braços e levou-apara fora do círculo de luz que projectava a chama da fogueira.
»Cucumetto dispôs as sentinelas como de costume e os bandidos deitaram-se envoltos nas suas capas à roda da fogueira.
»À meia-noite, uma sentinela deu o alerta e num instante o chefe e os companheiros levantaram-se.
»Era o pai de Rita, que vinha pessoalmente trazer o resgate da filha.
»- Tome - disse a Cucumetto, estendendo-lhe uma bolsa de dinheiro. - Estão aí trezentas piastras, restitua-me a minha filha.
»Mas o chefe, sem pegar no dinheiro, fez-lhe sinal para que o seguisse. O velho obedeceu. Ambos se afastaram para debaixo das árvores, através de cujos ramos se filtrava o luar. Por fim, Cucumetto deteve-se, estendeu a mão e indicou ao velho duas pessoas reunidas ao pé de uma árvore.
»- Vês? - disse-lhe. - Pede a tua filha a Carlini, é ele que ta tem de entregar.
»E voltou para junto dos companheiros.
»O velho ficou imóvel e com os olhos fixos. Pressentia que qualquer desgraça desconhecida, imensa, inaudita, lhe pairava sobre a cabeça.
»Por fim, deu alguns passos para o grupo informe, que não conseguia identificar.
»Ao ouvir o ruído que o velho fazia ao avançar ao seu encontro, Carlini levantou a cabeça e as formas das duas pessoas surgiram mais distintas aos olhos do velho.
»Deitada no chão encontrava-se uma mulher, com a cabeça pousada nos joelhos de um homem sentado e inclinado sobre ela. Fora ao endireitar-se que o homem descobrira o rosto da mulher que apertava ao peito.
»O velho reconheceu a filha e Carlini reconheceu o velho.
»- Esperava-te - disse o bandido ao pai de Rita.
»Miserável! - gritou o velho. - Que fizeste?
»E olhava com terror Rita, pálida, imóvel, ensanguentada, com uma faca espetada no peito.
»Um raio de luar batia nela e iluminava-a com uma luz baça.
»- Cucumetto violou a tua filha - disse o bandido - e como eu a amava, matei-a. Porque depois dele iria servir de joguete a toda a quadrilha.
»O velho não disse nada; apenas se tornou pálido como um espectro.
»- Agora - disse Carlini - se fiz mal, vinga-a.
»E arrancou a faca do seio da rapariga, levantou-se e foi oferecê-la com uma das mãos ao velho, enquanto com a outra afastava a jaqueta e lhe oferecia o peito nu.
»- Fizeste bem - disse-lhe o velho, numa voz abafada. - Abraça-me meu filho.
»Carlini lançou-se soluçando nos braços do pai da amada. Eram as primeiras lágrimas que vertia aquele homem sanguinário.