O Conde de Monte Cristo - Cap. 33: Bandidos Romanos Pág. 296 / 1080

»- Vejamos - disse Carlini, levantando-se por sua vez e aproximando-se do cadáver com a mão na coronha de uma das suas pistolas -, ainda há alguém que me queira disputar esta mulher?

»- Não - respondeu o chefe -, é tua!

»Então, Carlini tomou-a por seu turno nos braços e levou-apara fora do círculo de luz que projectava a chama da fogueira.

»Cucumetto dispôs as sentinelas como de costume e os bandidos deitaram-se envoltos nas suas capas à roda da fogueira.

»À meia-noite, uma sentinela deu o alerta e num instante o chefe e os companheiros levantaram-se.

»Era o pai de Rita, que vinha pessoalmente trazer o resgate da filha.

»- Tome - disse a Cucumetto, estendendo-lhe uma bolsa de dinheiro. - Estão aí trezentas piastras, restitua-me a minha filha.

»Mas o chefe, sem pegar no dinheiro, fez-lhe sinal para que o seguisse. O velho obedeceu. Ambos se afastaram para debaixo das árvores, através de cujos ramos se filtrava o luar. Por fim, Cucumetto deteve-se, estendeu a mão e indicou ao velho duas pessoas reunidas ao pé de uma árvore.

»- Vês? - disse-lhe. - Pede a tua filha a Carlini, é ele que ta tem de entregar.

»E voltou para junto dos companheiros.

»O velho ficou imóvel e com os olhos fixos. Pressentia que qualquer desgraça desconhecida, imensa, inaudita, lhe pairava sobre a cabeça.

»Por fim, deu alguns passos para o grupo informe, que não conseguia identificar.

»Ao ouvir o ruído que o velho fazia ao avançar ao seu encontro, Carlini levantou a cabeça e as formas das duas pessoas surgiram mais distintas aos olhos do velho.

»Deitada no chão encontrava-se uma mulher, com a cabeça pousada nos joelhos de um homem sentado e inclinado sobre ela. Fora ao endireitar-se que o homem descobrira o rosto da mulher que apertava ao peito.

»O velho reconheceu a filha e Carlini reconheceu o velho.

»- Esperava-te - disse o bandido ao pai de Rita.

»Miserável! - gritou o velho. - Que fizeste?

»E olhava com terror Rita, pálida, imóvel, ensanguentada, com uma faca espetada no peito.

»Um raio de luar batia nela e iluminava-a com uma luz baça.

»- Cucumetto violou a tua filha - disse o bandido - e como eu a amava, matei-a. Porque depois dele iria servir de joguete a toda a quadrilha.

»O velho não disse nada; apenas se tornou pálido como um espectro.

»- Agora - disse Carlini - se fiz mal, vinga-a.

»E arrancou a faca do seio da rapariga, levantou-se e foi oferecê-la com uma das mãos ao velho, enquanto com a outra afastava a jaqueta e lhe oferecia o peito nu.

»- Fizeste bem - disse-lhe o velho, numa voz abafada. - Abraça-me meu filho.

»Carlini lançou-se soluçando nos braços do pai da amada. Eram as primeiras lágrimas que vertia aquele homem sanguinário.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069