»- Agora - disse o velho a Carlini - ajuda-me a enterrar a minha filha.
»Carlini foi buscar duas enxadas e o pai e o apaixonado abriram uma cova ao pé de um carvalho cujos ramos frondosos deveriam cobrir a sepultura da jovem.
»Uma vez a cova aberta, o pai foi o primeiro a beijar a filha e depois o apaixonado. Em seguida, segurando-a um pelos pés e o outro pelos braços, desceram-na à cova.
»Finalmente, ajoelharam-se um de cada lado e rezaram as orações dos mortos.
»Quando terminaram, cobriram o cadáver de terra até a cova ficar cheia.
»Então, estendendo-lhe a mão, o velho disse a Carlini:
»- Obrigado, meu filho! Agora, deixa-me sozinho.
»- Mas...
»- Deixa-me, ordeno-to.
»Carlini obedeceu, foi juntar-se aos camaradas, enrolou-se na sua capa e em breve pareceu tão profundamente adormecido como os outros.
»Na véspera decidira mudar-se de acampamento.
»Uma hora antes de amanhecer, Cucumetto acordou os seus homens e deu ordem de partida.
»Mas Carlini não quis deixar a floresta sem saber o que acontecera ao pai de Rita.
»Dirigiu-se para o sítio onde o deixara.
»Encontrou o velho enforcado num dos ramos do carvalho que sombreavam a sepultura da filha.
»Fez então sobre o cadáver de um e a campa da outra o juramento de vingar ambos.
»Mas não pôde cumprir o juramento, porque dois dias mais tarde, num recontro com os carabineiros romanos, Carlini foi morto.
»Simplesmente causou estranheza que, estando de frente para o inimigo, tivesse recebido uma bala entre as espáduas.
»Mas a estranheza cessou quando um dos bandidos observou aos seus camaradas que Cucumetto se encontrava dez passos atrás de Carlini quando Carlini caíra.
»Na manhã da partida da floresta de Frosinone, Cucumetto seguira Carlini na obscuridade, ouvira o juramento que ele fizera e, como homem precavido que era, antecipara-se.
»A respeito deste terrível chefe de quadrilha contavam-se mais dez histórias não menos curiosas do que esta.
»Assim, de Fondi a Perúsia toda a gente tremia só de ouvir o nome de Cucumetto.
»Tais histórias tinham sido muitas vezes tema de conversa entre Luigi e Teresa.
»A rapariga tremia toda ao ouvi-las, mas Vampa tranquilizava-a com um sorriso, batendo na sua excelente espingarda, cujas balas eram infalíveis. Depois, se nem mesmo assim a jovem sossegava, mostrava-lhe a cem passos algum corvo empoleirado num ramo morto, metia a arma à cara, premia o gatilho e o animal, atingido, caia ao pé da árvore.
»Entretanto, o tempo ia passando. Os dois jovens tinham combinado casar-se quando tivessem Vampa vinte anos e Teresa dezanove.