»Eram ambos órfãos, só tinham de pedir licença ao patrão e haviam-na pedido e obtido.
»Um dia, quando conversavam acerca dos seus projectos de futuro, ouviram dois ou três tiros. Depois, de súbito, um homem saiu do bosque perto do qual os dois jovens costumavam fazer pastar os seus rebanhos e correu para eles.
»Quando chegou ao alcance da voz, gritou:
»- Sou perseguido! Podem-me esconder?
»Os dois jovens adivinharam sem dificuldade que o fugitivo devia ser algum bandido; mas existe entre o camponês e o bandido romano uma simpatia inata que leva o primeiro a estar sempre pronto a ajudar o segundo.
»Sem dizer nada, Vampa correu portanto para a pedra que vedava a entrada da sua gruta, descobriu essa entrada puxando a pedra para si, fez sinal ao fugitivo para se refugiar naquele asilo desconhecido de todos, empurrou a pedra para o seu lugar e voltou a sentar-se ao pé de Teresa.
»Quase imediatamente, apareceram na orla do bosque quatro carabineiros a cavalo. Três pareciam andar à procura do fugitivo, o quarto arrastava pelo pescoço um bandido prisioneiro.
»Os três carabineiros exploraram o local num relance de olhos, viram os dois jovens, correram para eles a galope e interrogaram-nos.
»Não tinham visto ninguém.
»- É pena - disse o cabo -, porque o que procuramos é o chefe.
»- Cucumetto?! - não puderam impedir-se de gritar ao mesmo tempo Luigi e Teresa.
»- Sim - respondeu o cabo -, e como a sua cabeça estava posta a prémio por mil escudos romanos, haveria quinhentos para vocês se nos ajudassem a prendê-lo.
»Os dois jovens entreolharam-se. O cabo teve um instante de esperança. Quinhentos escudos romanos equivalem a três mil francos, e três mil francos eram uma fortuna para dois pobres órfãos que iam casar.
»- Sim, é pena - respondeu Vampa -, mas não o vimos.
»Então os carabineiros bateram o local em várias direcções, mas inutilmente.
»Depois, um após outro, desapareceram.
»Então, Vampa tirou a pedra e Cucumetto saiu.
»Este vira, através das frestas da porta de granito, os dois jovens falarem com os carabineiros, adivinhara o tema da conversa e lera no rosto de Luigi e de Teresa a resolução inquebrantável de o não entregar. Por isso, tirou da algibeira uma bolsa cheia de ouro e ofereceu-lha.
»Mas Vampa ergueu a cabeça com orgulho; quanto a Teresa, os seus olhos brilharam ao pensar em tudo o que poderia comprar com aquele dinheiro: ricas jóias e lindos vestidos.