O Conde de Monte Cristo - Cap. 33: Bandidos Romanos Pág. 300 / 1080

»O conde de San-Felice mostrou-lhe, no meio das camponesas, Teresa apoiada no braço de Luigi.

»- Dá licença, meu pai? - perguntou Carmela.

»- Sem dúvida - respondeu o conde. - Não estamos no Carnaval?

«- Carmela inclinou-se para um rapaz que a acompanhava conversando e disse-lhe algumas palavras, ao mesmo tempo que lhe indicava com o dedo a rapariga.

«O jovem seguiu com a vista a bonita mão que lhe servia de condutora, fez um gesto de obediência e foi convidar Teresa a figurar na quadrilha dirigida pela filha do conde.

»Teresa sentiu como uma labareda passar-lhe pelo rosto. Interrogou Luigi com a vista; não havia maneira de recusar. Luigi deixou deslizar lentamente o braço de Teresa, que segurava no seu, e Teresa afastou-se conduzida pelo seu elegante cavalheiro e foi tomar lugar, toda trémula, na quadrilha aristocrática.

»Claro que aos olhos de um artista o verdadeiro e severo traje de Teresa teria carácter muito diferente do de Carmela e das suas companheiras. Mas Teresa era uma rapariga frívola e vaidosa. Os bordados da musselina, as palmas da faixa e o brilho da caxemira deslumbravam-na, assim como o reflexo das safiras e dos diamantes a enlouquecia.

»Pela sua parte, Luigi sentia nascer em si um sentimento desconhecido. Era como que uma dor surda que primeiro lhe mordia o coração e daí, tremente, lhe corria pelas veias e se lhe apoderava de todo o corpo. Seguia com a vista os menores movimentos de Teresa e do seu par, e quando as suas mãos se tocavam sentia como que deslumbramentos, as suas artérias latejavam com violência e dir-se-ia vibrar-lhe aos ouvidos o som de um sino. Quando falavam, embora Teresa escutasse, tímida e de olhos baixos, as palavras do par, Luigi lia nos olhos ardentes do rapaz que essas palavras eram louvores, parecia-lhe que o chão girava debaixo de si e que todas as vozes do Inferno lhe sussurravam ideias de morte e assassínio. Então, temendo deixar-se empolgar pela sua loucura, agarrava-se com uma das mãos ao bordo a que estava encostado de pé e com a outra apertava convulsivamente o punhal de cabo esculpido que trazia à cintura e que sem dar por isso tirava às vezes quase por completo da bainha.

»Luigi tinha ciúmes! Sentia que levada pela sua natureza vaidosa e orgulhosa Teresa lhe poderia fugir.

»Entretanto, a jovem camponesa a princípio tímida e quase amedrontada depressa se recompusera. Dissemos que Teresa era bonita. Não dissemos tudo: Teresa era graciosa, mas possuía era graça bravia muito mais poderosa do que a nossa graça dengosa e afectada.

»Teve quase as honras da quadrilha. E se invejou a filha do conde de San-Felice, ousamos dizer que Carmela a não invejou a ela.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069