O Conde de Monte Cristo - Cap. 33: Bandidos Romanos Pág. 301 / 1080

»Por isso, foi com muitos cumprimentos que o seu belo par a reconduziu ao lugar onde a fora buscar e esperava Luigi.

»Duas ou três vezes, durante a contradança, a rapariga lhe deitara uma olhadela e de todas as vezes o vira pálido e de rosto crispado. Uma vez até a lâmina do seu punhal, meio tirado da bainha, cegara-a como um relâmpago sinistro.

»Foi pois quase trémula que retomou o braço do amado.

»A quadrilha obtivera o maior êxito e era evidente que todos desejavam fazer segunda edição. Só Carmela se opunha a isso. Mas o conde de San-Felice insistiu com a filha tão ternamente que ela acabou por consentir.

»Imediatamente um dos cavalheiros se adiantou para convidar Teresa, sem a qual era impossível a contradança realizar-se, mas a rapariga já desaparecera.

»Com efeito, Luigi não se sentira com coragem para suportar segunda prova; e meio por persuasão, meio à força, arrastara Teresa para outro ponto do jardim. Teresa cedera muito a seu pesar; mas vira a cara transtornada do rapaz e compreendera, pelo seu silêncio entrecortado de estremecimentos nervosos, que algo estranho se passava nele. Ela própria não estava isenta da agitação interior, e embora nada tivesse feito de mal, compreendia que Luigi tinha o direito de a censurar. A respeito de quê? Ignorava-o, mas nem por isso sentia menos que as censuras seriam merecidas.

»Todavia, com grande espanto de Teresa, Luigi ficou calado e nem uma palavra lhe entreabriu os lábios durante todo o resto da noite. Somente quando o frio nocturno expulsou os convidados do jardim e as portas do palácio se voltaram a fechar para eles, pois a partir dali a festa ia continuar, mas lá dentro, ao acompanhar Teresa a casa, lhe perguntou quando ele ia a entrar:

»- Teresa, em que pensavas quando dançavas diante da jovem condessa de San-Felice?

»- Pensava - respondeu a rapariga com toda a franqueza da sua alma - que daria metade da minha vida para ter um vestido como o que ela trazia.

»- E que te dizia o teu par?

»- Dizia-me que só de mim dependia possuí-lo e que para o ter me bastaria dizer uma palavra.

»- E tinha razão - respondeu Luigi. - Deseja-lo tão ardentemente como dizes?

»- Desejo.

»- Pois bem, tê-lo-ás!

»Atónita, a rapariga levantou a cabeça para o interrogar; mas o rosto de Luigi tinha uma expressão tão terrível e sombria que as palavras lhe gelaram nos lábios.

»De resto, depois de dizer o que dissera, Luigi retirara-se.

»Teresa seguiu-o com a vista na noite, enquanto o pôde distinguir. Depois, quando ele desapareceu, entrou em casa suspirando.

»Nessa mesma noite declarou-se um grande incêndio, devido, sem dúvida, à imprudência de algum criado que se esquecera de apagar as luzes. O fogo apoderou-se do Palácio San-Felice precisamente a partir dos aposentos da linda Carmela.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069