»Teresa soltou um grito de alegria e, sem se informar donde viera aquele traje nem perder tempo a agradecer a Luigi, correu para a gruta transformada em gabinete de vestir.
»Luigi correu a pedra atrás dela, porque acabava de ver, no cimo de uma colinazinha que impedia que do lugar onde estava se visse Palestrina, um viajante a cavalo que se deteve um instante como que hesitante no seu caminho e se recortou no azul do céu com a nitidez de contornos característica dos longes dos países meridionais.
»Ao ver Luigi, o viajante meteu o cavalo a galope e foi ao seu encontro.
»Luigi não se enganara: o viajante, que se dirigia de Palestrina para Tivoli, estava hesitante no caminho.
»O rapaz indicou-lho. Mas como a um quarto de milha dali a estrada se dividia em três caminhos e, chegado ai, o viajante se pudesse perder novamente, pediu a Luigi que lhe servisse de guia.
»Luigi tirou a capa e pô-la no chão, pôs a carabina ao ombro e, liberto assim da pesada peça de vestuário, seguiu à frente do viajante com o passo rápido do montanhos que o passo de um cavalo dificilmente acompanha.
»Em dez minutos, Luigi e o viajante chegaram à espécie de encruzilhada indicada pelo jovem pastor.
»Uma vez aí, num gesto majestoso como o de um imperador, Luigi estendeu a mão para aquela das três estradas que o viajante devia seguir.
»- Aqui tem o seu caminho, Excelência - disse-lhe. - Agora já não tem nada que se enganar.
»- E tu aqui tens a tua recompensa - disse o viajante, oferecendo ao jovem pastor algumas moedas de pouco valor.
»- Obrigado - disse Luigi, retirando a mão. - Presto um favor, não o vendo.
»- Mas - disse o viajante, que parecia de resto habituado à diferença entre o servilismo do homem das cidades e o orgulho do camponês -, se recusas um salário aceitas ao menos um presente?
»- Aceito, isso é diferente.
«- Então - disse o viajante -, toma estes dois sequins de Veneza e dá-os à tua noiva para fazer uns brincos.
»- E o senhor tome este punhal - disse o jovem pastor. - De Albino a Civita- Castellana não encontrará outro cujo punho esteja melhor esculpido.
»- Aceito - respondeu o viajante. - Mas assim sou eu que te fico em dívida, pois este punhal vale mais do que dois sequins.
»- Para um comerciante, talvez; mas para mim, que o esculpi, vale apenas uma piastra.
»- Como te chamas? - perguntou o viajante.
»- Luigi Vampa - respondeu o pastor, com o mesmo ar com que responderia: "Alexandre, rei da Macedónia." - E o senhor?
»- Eu - respondeu o viajante - chamo-me Simbad, o Marinheiro.
Franz de Epinay soltou um grito de surpresa.
- Simbad, o Marinheiro! - exclamou.