O Conde de Monte Cristo - Cap. 5: O banquete de noivado Pág. 31 / 1080

É necessário lutar para a conquistar e eu, para ser franco, não sei por que mereci a felicidade de ser marido de Mercédès.

- O marido, o marido... - interveio Caderousse, rindo - ainda não, meu comandante. Experimenta fazer de marido e verás como serás recebido!

Mercédès corou.

Fernand agitava-se na cadeira, estremecia ao mais pequeno ruído e de vez em quando limpava as grossas bagas de suor que lhe perlavam a testa como as primeiras gotas de uma chuvada tempestuosa.

- Palavra, vizinho Caderousse - redarguiu Dantès -, que não vale a pena desmentir-me por tão pouco. Mercédès ainda não é minha mulher, é certo... - puxou do relógio - mas sê-lo-á dentro de hora e meia! Todos soltaram um grito de surpresa, com exceção do Tio Dantès, que exibiu os dentes, ainda bonitos, numa grande gargalhada.

Mercédès sorriu e não corou. Fernand apertou convulsivamente o cabo da sua faca.

- Dentro de uma hora? - sobressaltou-se Danglars, empalidecendo por seu turno. - Como assim?

- Sim, meus amigos - respondeu Dantès. - Graças ao crédito do Sr. Morrel, o homem, depois do meu pai, a quem mais devo no mundo, todas as dificuldades estão aplanadas. Comprámos os banhos e o maire de Marselha espera-nos às duas e meia na Câmara Municipal. Ora como acaba de dar uma hora e um quarto, não creio enganar-me muito dizendo que dentro de uma hora e trinta minutos Mercédès se chamará Sra. Dantès.

Fernand fechou os olhos. Uma nuvem de fogo queimou-lhe as pálpebras. Encostou-se à mesa para não desfalecer e, apesar de todos os seus esforços, não pôde conter um gemido abafado que se perdeu no meio do ruído dos risos e dos parabéns dos convivas.

- Isto é que é desembaraço, hem? - comentou o Tio Dantès. - É o que se chama não perder tempo, não acham? Chegado ontem de manhã, casado hoje às três horas! Não me venham cá dizer que os marinheiros não são despachados!

- Mas as outras formalidades? - objetou timidamente Danglars. - O contrato, as escrituras?...

- O contrato? - redarguiu Dantès, rindo. - O contrato está pronto. Mercédès não tem nada e eu também não! Casamo-nos em regime de comunhão e pronto! Foi coisa que não levou muito tempo a escrever nem custará muito cara.

Esta saída suscitou uma nova explosão de alegria e de bravos.

- Portanto, o que tomámos por um banquete de noivado é muito simplesmente um banquete de casamento - observou Danglars.

- Não - contrapôs Dantès. - Não perderão nada com isto, estejam tranquilos. Amanhã de manhã parto para Paris.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069