O Conde de Monte Cristo - Cap. 34: Aparição Pág. 314 / 1080

- E se o não conseguir?...

- Três tapeçarias amarelas.

- E nesse caso...

- E nesse caso, meu caro amigo, sirva-se do punhal à sua vontade. Permito-lho e estarei lá para o ver actuar.

- Adeus, Excelência. Conto consigo, conte comigo.

Ditas estas palavras, o trasteveriano desapareceu pela escada, enquanto o desconhecido, cobrindo mais do que nunca o rosto com a capa, passou a dois passos de Franz e desceu à arena pelos degraus exteriores.

Um segundo mais tarde, Franz ouviu o seu nome ecoar debaixo das abóbadas: era Albert quem o chamava. Esperou para responder que os dois homens se afastassem, pois não queria que soubessem que tinham tido uma testemunha que, embora lhes não tivesse visto a cara, não perdera uma palavra do seu diálogo.

Dez minutos depois, Franz rodava para o Hotel de Espanha, escutando com uma distracção deveras impertinente a douta dissertação que Albert fazia, segundo Plínio e Calpúrnio, acerca das redes guarnecidas de pontas de ferro que impediam as feras de se atirar aos espectadores. Deixava-o falar sem o contradizer. Tinha pressa de se encontrar sozinho para pensar sem que o distraíssem no que acabava de acontecer na sua presença.

Dos dois homens, um era-lhe certamente estranho, era a primeira vez que o via e ouvia, mas o mesmo não acontecia com o outro. E embora Franz lhe não pudesse ver a cara, constantemente oculta na sombra ou escondida pela capa, o timbre daquela voz impressionara-o tanto da primeira vez que a ouvira que ela nunca mais poderia soar diante de si sem que a reconhecesse.

Havia sobretudo nas intonações irónicas qualquer coisa de estridente e metálico que o fizera estremecer tanto nas ruínas do Coliseu como na gruta de Monte-Cristo. Por isso, estava absolutamente convencido de que aquele homem não era outro senão Simbad, o Marinheiro.

Por isso, em qualquer outra circunstância, a curiosidade que lhe inspirara aquele homem seria tão grande que não hesitaria em dar-se-lhe a reconhecer. Mas naquela ocasião a conversa que acabava de ouvir era demasiado íntima para que o não contivesse o receio, muito sensato, de que o seu aparecimento lhe não seria agradável. Deixara-o portanto afastar-se, como vimos, mas prometendo a si próprio, se o voltasse a encontrar, não deixar fugir essa segunda oportunidade como deixara fugir a primeira.

Franz estava demasiado preocupado para dormir bem. Gastou a noite a passar e repassar no seu espírito todas as circunstâncias relacionadas com o homem da gruta e o desconhecido do Coliseu, e que tendiam a fazer das duas personagens o mesmo indivíduo. E quanto mais Franz pensava nisso, tanto mais se firmava nesta opinião.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069