O Conde de Monte Cristo - Cap. 34: Aparição Pág. 316 / 1080

Ainda por cima, tinha cinquenta mil libras de rendimento. Como se verifica, era mais do que o preciso para estar na moda em Paris. Daí portanto ser um bocadinho humilhante não ter ainda sido seriamente notado por ninguém em nenhuma das cidades por onde passara.

Contava, porém, desforrar-se em Roma, visto o Carnaval ser, em todos os países da Terra que celebravam tão estimável instituição, uma época de liberdade em que os mais sisudos se deixam arrastar a cometer qualquer acto de loucura. Ora, como o Carnaval começava no dia seguinte, era importantíssimo que Albert iniciasse o seu programa antes de o Carnaval começar.

Com essa intenção comprara um dos camarotes mais em evidência do teatro e vestira-se impecavelmente para assistir ao espectáculo. Era um camarote de primeira ordem, que substitui entre nós a galeria. De resto, as três primeiras ordens são tão aristocráticas umas como outras e por esse motivo lhe chamam ordens nobres.

Aliás o camarote, onde caberiam doze pessoas sem ficarem apertadas custara aos dois amigos um bocadinho menos do que um camarote de quatro pessoas no Ambigu.

Albert tinha ainda outra esperança: conseguir lugar no coração de uma bela romana, o que levaria, naturalmente, à conquista de um posto na carruagem da dama e consequentemente a ver o Carnaval do alto de um veículo aristocrático ou de uma varanda principesca.

Todas estas considerações tornavam Albert mais impaciente do que nunca. Virava as costas aos actores, debruçava-se a ponto de deitar meio corpo fora do camarote e analisava todas as mulheres bonitas com um binóculo de seis polegadas de comprimento... o que não levava nem uma só mulher bonita a recompensar com um único olhar, mesmo de curiosidade, todo o esforço despendido por Albert.

Efectivamente, cada qual falava dos seus negócios, dos seus amores, dos seus prazeres, do Carnaval que principiaria no dia seguinte e da próxima Semana Santa, sem prestar atenção um só instante, nem aos actores nem à peça, com excepção dos momentos indicados, em que então todos se viravam, quer para ouvir uma porção do recitativo de Coselli, quer para aplaudir qualquer rasgo brilhante de Moriani, quer para gritar «Bravo!» à Spech. Depois, as conversas particulares retomavam o seu curso habitual.

Quase no fim do primeiro acto a porta de um camarote que se conservara vazio até ali abriu-se e Franz viu entrar uma pessoa a quem tivera a honra de ser apresentado em Paris e que julgava ainda em França. Albert notou o gesto que fez o amigo a essa aparição e, virando-se para ele, perguntou-lhe:

- Conhece aquela dama?

- Conheço. Como a acha?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069