O Conde de Monte Cristo - Cap. 35: A Mazzolata Pág. 336 / 1080

As varandas das duas igrejas que fazem esquina para a Rua do Babuino e para a Rua da Ripetta regurgitavam de curiosos privilegiados e os degraus dos peristilos lembravam uma torrente movediça e colorida que uma maré incessante empurrasse para o pórtico.

Cada saliência da parede capaz de suportar um homem tinha a sua estátua viva. O que o conde dizia era portanto verdade: o que existe de mais curioso na vida é o espectáculo da morte. E no entanto, em vez do silêncio que deveria presidir à solenidade do espectáculo, saía da multidão um barulho ensurdecedor composto por risos, chamamentos e gritos alegres. Era também evidente, como dissera o conde, que a execução não significava para toda aquela gente mais do que o início do Carnaval.

De súbito, o barulho cessou como que por encanto. Acabava de se abrir a porta da igreja. Uma confraria de penitentes em que todos os membros envergavam uma espécie de saco cinzento apenas com aberturas nos olhos e empunhavam uma vela acesa, apareceu em primeiro lugar. O chefe da confraria vinha à frente. Atrás dos penitentes vinha um homem alto. Esse homem estava nu, com excepção de umas ceroulas de pano do lado esquerdo das quais trazia presa uma grande faca embainhada. No ombro direito carregava uma pesada maça de ferro.

Aquele homem era o carrasco.

Além disso, calçava sandálias presas por cordas às canelas. Atrás do carrasco caminhavam, pela ordem em que deviam ser executados, primeiro Peppino e depois Andrea. Cada um vinha acompanhado por dois padres. Nem um nem outro traziam os olhos vendados.

Peppino caminhava com passo bastante firme. Sem dúvida fora avisado do que se preparava para si. Andrea era amparado por cada braço por um padre. Ambos beijavam de vez em quando o crucifixo que lhos apresentava o confessor.

Mal viu aquele aparato, Franz sentiu as pernas fraquejarem-lhe. Olhou para Albert. Estava pálido como a sua camisa e num gesto maquinal atirou para longe o charuto, embora só tivesse fumado metade.

Apenas o conde parecia impassível. Mais, uma leve coloração rosada parecia querer sobrepor-se à palidez lívida das suas faces. O nariz dilatava-se-lhe como o da fera que fareja sangue, e os seus lábios, ligeiramente afastados, deixavam ver os seus dentes brancos, pequenos e aguçados como os de um chacal.

E no entanto, apesar de tudo isso, o seu rosto tinha uma expressão de doçura sorridente que Franz nunca lhe vira. Os seus olhos negros, sobretudo, estavam admiráveis de mansidão e suavidade.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069