As varandas das duas igrejas que fazem esquina para a Rua do Babuino e para a Rua da Ripetta regurgitavam de curiosos privilegiados e os degraus dos peristilos lembravam uma torrente movediça e colorida que uma maré incessante empurrasse para o pórtico.
Cada saliência da parede capaz de suportar um homem tinha a sua estátua viva. O que o conde dizia era portanto verdade: o que existe de mais curioso na vida é o espectáculo da morte. E no entanto, em vez do silêncio que deveria presidir à solenidade do espectáculo, saía da multidão um barulho ensurdecedor composto por risos, chamamentos e gritos alegres. Era também evidente, como dissera o conde, que a execução não significava para toda aquela gente mais do que o início do Carnaval.
De súbito, o barulho cessou como que por encanto. Acabava de se abrir a porta da igreja. Uma confraria de penitentes em que todos os membros envergavam uma espécie de saco cinzento apenas com aberturas nos olhos e empunhavam uma vela acesa, apareceu em primeiro lugar. O chefe da confraria vinha à frente. Atrás dos penitentes vinha um homem alto. Esse homem estava nu, com excepção de umas ceroulas de pano do lado esquerdo das quais trazia presa uma grande faca embainhada. No ombro direito carregava uma pesada maça de ferro.
Aquele homem era o carrasco.
Além disso, calçava sandálias presas por cordas às canelas. Atrás do carrasco caminhavam, pela ordem em que deviam ser executados, primeiro Peppino e depois Andrea. Cada um vinha acompanhado por dois padres. Nem um nem outro traziam os olhos vendados.
Peppino caminhava com passo bastante firme. Sem dúvida fora avisado do que se preparava para si. Andrea era amparado por cada braço por um padre. Ambos beijavam de vez em quando o crucifixo que lhos apresentava o confessor.
Mal viu aquele aparato, Franz sentiu as pernas fraquejarem-lhe. Olhou para Albert. Estava pálido como a sua camisa e num gesto maquinal atirou para longe o charuto, embora só tivesse fumado metade.
Apenas o conde parecia impassível. Mais, uma leve coloração rosada parecia querer sobrepor-se à palidez lívida das suas faces. O nariz dilatava-se-lhe como o da fera que fareja sangue, e os seus lábios, ligeiramente afastados, deixavam ver os seus dentes brancos, pequenos e aguçados como os de um chacal.
E no entanto, apesar de tudo isso, o seu rosto tinha uma expressão de doçura sorridente que Franz nunca lhe vira. Os seus olhos negros, sobretudo, estavam admiráveis de mansidão e suavidade.