O Conde de Monte Cristo - Cap. 5: O banquete de noivado Pág. 35 / 1080

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Em todo o caso, que o golpe recaia sobre quem o desferiu.

- Esqueces-te daquele que o aconselhou - redarguiu Caderousse.

- Diabos te levem, como se um homem fosse responsável por tudo o que diz no ar! - E é, quando o que diz no ar fere alguém.

Entretanto, os grupos comentavam a prisão em todos os tons.

- E você, Danglars, que pensa disto? - perguntou uma voz.

- Por mim - respondeu Danglars - creio que terá trazido alguns fardos de mercadorias proibidas.

- Mas se fosse isso você devê-lo-ia saber, Danglars, visto ser o guarda-livros.

- Sim, é verdade, mas o guarda-livros só conhece as mercadorias que lhe declaram. Sei que carregamos algodão e mais nada; que o carregamento foi embarcado em Alexandria pelo Sr. Pastret e em Esmirna pelo Sr. Pascal; não me perguntem mais nada.

- Oh, agora me lembro! - murmurou o pobre pai, agarrando-se a esse destroço. - Agora me lembro ter-me dito ontem que trazia para mim uma caixa de café e uma caixa de tabaco.

- Vê? - disse Danglars. - Deve ser isso. Na nossa ausência a alfândega terá feito uma visita a bordo do Pharaon e descoberto a marosca.

Mas Mercédès não acreditava em nada daquilo. Refreada até ali, a sua dor desfez-se de súbito em soluços.

- Então, então, é preciso ter esperança! - disse sem saber muito bem o que dizia o Tio Dantès.

- Sim, esperança - repetiu Danglars.

- Esperança - tentou murmurar Fernand.

Mas a palavra sufocava-o. Agitou os lábios e não conseguiu que nenhum som lhe saísse da boca.

- Senhores! - gritou um dos convivas que ficara de atalaia na balaustrada. - Senhores, uma carruagem! Ah, é o Sr. Morrel! Coragem, coragem! Traz-nos com certeza boas notícias.

Mercédès e o velho pai correram ao encontro do armador, que encontraram à porta. O Sr. Morrel estava muito pálido.

- Então? - perguntaram ao mesmo tempo.

- Então, meus amigos - respondeu o armador abanando a cabeça - o caso é mais grave do que nós pensávamos.

- Mas, senhor, ele está inocente! - gritou Mercédès.

- Acredito - respondeu o Sr. Morrel. - Mas acusam-no...

- De quê? - perguntou o velho Dantès.

- De ser agente bonapartista.

Aqueles dos meus leitores que viveram na época em que se passa esta história recordar-se-ão que terrível acusação era então aquela que o Sr. Morrel acabava de formular.

Mercédès soltou um grito; o velho deixou-se cair numa cadeira.

- Ah! - murmurou Caderousse. - Vocês enganaram-me, Danglars, e pregaram a partida a Dantès. Mas não quero ver morrer de dor esse velho e essa rapariga e vou dizer-lhes tudo.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069