O Conde de Monte Cristo - Cap. 36: O Carnaval de Roma Pág. 352 / 1080

O conde soubera que os dois amigos tinham querido comprar um camarote no Teatro Argentina e lhos haviam respondido que estava tudo vendido. Trazia-lhes por isso a chave do seu. Pelo menos era esse o motivo aparente da sua visita.

Franz e Albert fizeram-se um bocadinho rogados, alegando o receio de o privarem do camarote. Mas o conde respondeu-lhes que como ia naquela noite ao Teatro Palli, o seu camarote no Teatro Argentina se perderia se eles o não aproveitassem. Este facto determinou os dois amigos a aceitarem.

Franz habituara-se pouco a pouco à palidez do conde, que tanto o impressionara da primeira vez que o vira. Não podia deixar de prestar justiça à beleza da sua cara severa, cuja palidez constituía o seu único defeito ou talvez a sua principal qualidade. Autêntico herói de Byron, Franz não podia, não diremos vê-lo, mas apenas pensar nele, sem imaginar aquele rosto pálido e sombrio sobre os ombros de Manfredo ou sob o barrete de Lara. Tinha na testa essa ruga que indica a presença incessante de um pensamento amargo; possuía uns olhos ardentes que penetravam até às profundezas das almas, e nem sequer lhe faltava, para completar o quadro, os lábios orgulhosos e zombeteiros que dão às palavras que preferem o carácter especial que as leva a gravarem-se profundamente na memória daqueles que as escutam.

O conde já não era novo. Tinha pelo menos quarenta anos e no entanto adivinhava-se sem custo que estava preparado para levar a melhor ao jovem com quem deparasse. Na realidade, numa derradeira semelhança com os heróis fantásticos do poeta inglês, o conde parecia possuir o dom da fascinação.

Albert não se cansava de salientar a sorte que ele e Franz tinham tido em encontrar semelhante homem. Franz era menos entusiasta, mas mesmo assim sofria a influência que exerce qualquer homem superior no espírito daqueles que o rodeiam.

Pensava no projecto de ir a Paris que já por duas ou três vezes o conde manifestara e não duvidava que com o seu carácter excêntrico, o seu rosto característico e a sua fortuna colossal o conde produziria o maior efeito.

E contudo não desejaria encontrar-se em Paris quando ele lá fosse.

A noite passou-se como se passam habitualmente as noites no teatro em Itália, não a escutar os cantores, mas sim a fazer visitas e a conversar. A condessa C... queria reatar a conversa sobre o conde, mas Franz anunciou-lhe que tinha coisa muito mais recente a comunicar-lhe e, apesar das demonstrações de falsa modéstia a que se entregou Albert, contou à condessa o grande acontecimento que havia três dias era objecto das preocupações dos dois amigos.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069