O Conde de Monte Cristo - Cap. 39: Os convivas Pág. 384 / 1080

- Um diplomata ou outra coisa, não sei. O que sei é que o encarreguei por minha conta de uma embaixada de que se desempenhou tanto a meu contento que, se eu fosse rei, tê-lo-ia feito imediatamente cavaleiro de todas as minhas ordens, ainda que tivesse ao mesmo tempo à minha disposição o Tosão de Ouro e a Jarreteira.

- Bom, já que não vamos ainda para a mesa - disse Debray -, sirva-se de um copo de xerez como nós e conte-nos isso, barão.

- Como todos sabem, tive a ideia de ir a África.

- Foi um caminho que os seus antepassados lhe traçaram, meu caro Château-Renaud - observou galantemente Morcerf.

- Pois sim, mas duvido que fosse, como eles, para libertar o túmulo de Cristo.

- Tem razão, Beauchamp - concordou o jovem aristocrata. - A minha intenção era simplesmente dar uns tirinhos de pistola como amador. O duelo repugna-me, como sabe, desde que as duas testemunhas que escolhera para conciliar uma questão me obrigaram a partir o braço a um dos meus melhores amigos, exactamente ao pobre Franz de Epinay, que todos conhecem.

- Ah, sim, é verdade! - exclamou Debray. - Vocês bateram-se há tempo... A que propósito?

- Diabo me leve se me recordo! - respondeu Château-Renaud. - Mas do que me lembro perfeitamente é que, envergonhado de deixar dormir um talento como o meu, quis experimentar contra os árabes umas pistolas novas que acabavam de me oferecer. Consequentemente, embarquei para Orão. De orão. segui para Constantina e cheguei exactamente a tempo de ver levantar o cerco. Retirei, como os outros. Durante quarenta e oito horas suportei bastante bem a chuva de dia e a neve de noite. Por fim, na manhã do terceiro dia, o meu cavalo morreu de frio.

Pobre animal, acostumado às mantas e ao fogão de aquecimento da cavalariça!... Um cavalo árabe que se sentiu, nem mais, nem menos, um bocadinho deslocado quando deparou com dez graus de frio na arábia.

- É por isso que você me quer comprar o meu cavalo inglês - comentou Debray. - Julga que suportará melhor o frio do que o seu árabe.

- Engana-se, porque jurei nunca mais voltar a África.

- Quer dizer que teve medo? - perguntou Beauchamp.

- Palavra que tive, confesso - respondeu Château-Renaud. - E havia motivo para isso! O meu cavalo morrera; eu retirava portanto a pé. Apareceram seis árabes a galope dispostos a cortar-me a cabeça; abati dois com os meus dois tiros de espingarda, outros dois com os meus dois tiros de pistola, tiros em cheio, mas restavam dois e estava desarmado. Um agarrou-me pelos cabelos (é por isso que os uso curtos agora; nunca se sabe o que pode acontecer ...) e o outro encostou-me o iatagã ao pescoço.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069