Os presentes olharam Morcerf com uma expressão que queria dizer. «Então, meu caro, endoideceu ou está a troçar de nós?»
- Com efeito - interveio Morrel, pensativo -, também ouvi contar a um velho marinheiro chamado Penelon qualquer coisa semelhante ao que acaba de dizer o Sr. de Morcerf.
- Ora ainda bem que o Sr. Morrel me ajuda! - exclamou Albert.
- Contraria-os, não é verdade, que ele atire assim um novelo de fio para o meu labirinto?
- Perdão, caro amigo, mas é que você conta-nos coisas tão inverossímeis... - murmurou Debray.
- Porquê? Porque os vossos embaixadores e os vossos cônsules não vos disseram nada a tal respeito? Coitados, não lhes chega o tempo para incomodarem os seus compatriotas que viajam.
- Bom, agora zanga-se e atira-se aos nossos pobres agentes. Meu Deus, com que quer que o protejam? A Câmara diminui-lhos todos os dias os honorários, a ponto de já se não arranjar ninguém para tais cargos. Quer ser embaixador, Albert? Posso mandar nomeá-lo para Constantinopla.
- Não! Para que à primeira intervenção que fizesse a favor de Maomet Ali o sultão me mandar o cordão e os meus secretários me estrangularem?
- Bem vê... - começou Debray.
- Pois vejo, mas tudo isso não impede o meu conde de Monte-Cristo de existir!
- Por Deus, toda a gente existe... Olha o grande milagre!
- Toda a gente existe, sem dúvida, mas não em semelhantes condições. Nem toda a gente possui escravos negros, galerias de quadros principescas, armas riquíssimas, cavalos de seis mil francos cada um, amantes gregas!
- Viu-a, a amante grega?
- Vi. Vi-a e ouvi-a. Vi-a no Teatro Vallo e ouvi-a um dia em que almocei em casa do conde.
- Come, portanto, o seu homem extraordinário?
- Palavra que se come é tão pouco que nem vale a pena falar disso.
- Verão, é um vampiro...
- Riam à vontade. Essa era também a opinião da condessa G... que, como sabem, conheceu Lorde Ruthwen.
- Bonito! - exclamou Beauchamp. - Ora aí está como um homem que não é jornalista conseguiu descobrir o equivalente da famosa serpente do mar Constitutionnel. Um vampiro! Não há dúvida que é perfeito.
- Olhos amarelados, cuja pupila diminui e se dilata à vontade - disse Debray. - ângulo facial desenvolvido, testa magnífica, tez lívida, barba preta, dentes brancos e agudos, cortesia a condizer...