O Conde de Monte Cristo - Cap. 41: A apresentação Pág. 407 / 1080

Monte-Cristo estava ocupado a observar em pormenor o retrato, com não menos cuidado do que observara o outro, quando se abriu uma porta lateral e se encontrou diante do próprio conde de Morcerf.

Era um homem de quarenta a quarenta e cinco anos, mas que parecia ter pelo menos cinquenta, e cujo bigode, bem como as sobrancelhas pretas, contrastavam estranhamente com os cabelos quase brancos, cortados à escovinha, em estilo militar. Vestia à paisana e trazia na lapela uma fita cujas várias secções indicavam as diversas ordens com que era condecorado. Entrou com passo bastante nobre e uma espécie de precipitação.

Monte-Cristo viu-o vir ao seu encontro sem dar um único passo; dir-se-ia que os seus pés estavam colados ao chão, tal como os seus olhos ao rosto do conde de Morcerf.

- Meu pai - disse o rapaz -, tenho a honra de lhe apresentar o Sr. Conde de Monte-Cristo, o generoso amigo que tive a felicidade de encontrar nas circunstâncias difíceis que conhece.

- Seja bem-vindo entre nós, senhor - disse o conde de Morcerf, cumprimentando Monte-Cristo com um sorriso. - Prestou à nossa casa, conservando-lhe o seu único herdeiro, um serviço que terá eternamente o nosso reconhecimento.

E, ao dizer estas palavras, o conde de Morcerf indicava uma poltrona a Monte-Cristo, ao mesmo tempo que ele próprio se sentava defronte da janela.

Quanto a Monte-Cristo, ao ocupar a poltrona indicada pelo conde de Morcerf arranjou maneira de ficar oculto na sombra dos grandes reposteiros de veludo, de modo a ler daí, nas feições marcadas de fadiga e preocupações do conde, toda uma história de sofrimentos íntimos escrita em cada ruga que o tempo lhe trouxera.

- A Sr.ª Condessa - disse Morcerf - estava a arranjar-se quando o visconde, a mandou prevenir da visita que ia ter a honra de receber, mas vai descer e dentro de dez minutos estará na sala.

- É muita honra para mim - declarou Monte-Cristo – ser assim, logo no dia da minha chegada a Paris, apresentado a um homem cujo mérito iguala a reputação e com quem a fortuna, justa uma vez, não incorreu em erro. Mas não terá ela ainda, nas planícies de Mitidja ou nas montanhas do Atlas, um bastão de marechal para lhe oferecer?

- Infelizmente, senhor - respondeu Morcerf corando um pouco -, deixei o serviço. Nomeado par durante a Restauração, participei na primeira campanha e servi sob as ordens do marechal de Bourmont. Podia portanto aspirar a um comando superior e quem sabe se isso não teria acontecido se o ramo primogénito tivesse permanecido no trono!





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069