O Conde de Monte Cristo - Cap. 41: A apresentação Pág. 409 / 1080

- Ficar-lhe-ei muito reconhecido, senhor, se se dignar renovar o convite noutra altura; mas hoje lisonjeia-me tanto a esperança de ser apresentado à Sr.ª Condessa que prefiro esperar.

- Oh, aí está a minha mãe! - exclamou o visconde.

Com efeito, ao virar-se rapidamente, Monte-Cristo viu a Sr.ª de Morcerf à entrada da sala, no limiar da porta oposta àquela por onde entrara o marido. Imóvel e pálida, deixou, quando Monte-Cristo se virou para ela, cair o braço que, sem que se soubesse porquê, apoiara na ombreira dourada.

Estava ali havia alguns segundos e ouvira as últimas palavras pronunciadas pelo visitante transalpino. Este levantou-se e cumprimentou profundamente a condessa, que se inclinou por seu turno, muda e cerimoniosa.

- Meu Deus, senhora, que tem? - perguntou o conde. - Será por acaso o calor desta sala que a incomoda?

- Sente-se mal, minha mãe? - perguntou o visconde, correndo ao encontro de Mercédès.

Ela agradeceu a ambos com um sorriso.

- Não - disse -, mas experimentei certa emoção ao ver pela primeira vez aquele sem cuja intervenção estaríamos agora mergulhados em lágrimas e em luto. Senhor - continuou a condessa, adiantando-se com a majestade de uma rainha -, devo-lhe a vida do meu filho e por esse benefício o abençoo. Além disso, agradeço-lhe o prazer que me proporcionou dando-me ensejo de lhe agradecer como o abençoei, isto é, do fundo do coração.

O conde inclinou-se novamente, ainda mais do que da primeira vez. Estava ainda mais pálido do que Mercédès.

- Minha senhora - disse -, o Sr. Conde e V. Ex.a recompensam-me com excessiva generosidade de uma acção muito simples. Salvar um homem, poupar sofrimentos a um pai e a sensibilidade de uma mulher não é de modo algum uma boa acção, é praticar um acto de humanidade.

A estas palavras, pronunciadas com uma doçura e uma delicadeza requintadas, respondeu a Sr.ª de Morcerf em tom comovido:

- É deveras feliz o meu filho em o ter como amigo, senhor, e agradeço a Deus ter feito as coisas assim.

E Mercédès ergueu os seus belos olhos ao céu com uma gratidão tão infinita que o conde julgou ver tremer neles duas lágrimas. O Sr. de Morcerf aproximou-se dela.

- Minha senhora - disse -, já apresentei as minhas desculpas ao Sr. Conde por ser obrigado a deixá-lo, e peço-lhe que lhas renove. A sessão abriu às duas horas, são três e devo falar.

- Vá, senhor. Procurarei fazer esquecer a sua ausência ao nosso hóspede - respondeu a condessa no mesmo tom comovido. - Sr. Conde - continuou virando-se para Monte-Cristo - quer dar-nos a honra de passar o resto do dia connosco?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069