O Conde de Monte Cristo - Cap. 44: A vendetta Pág. 435 / 1080

Quando eu estava em Rogliano, as coisas ainda iam razoavelmente; mas assim que eu partia, Benedetto apoderava-se da casa e tudo corria mal. Apesar de contar apenas onze anos, escolhia todos os seus camaradas entre os rapazes de dezoito ou vinte anos, dos piores de Bástia e de Corte, e já, devido a algumas travessuras que mereciam nome mais sério, fôramos advertidos pela justiça.

«Assustei-me. Qualquer investigação poderia ter consequências funestas. Ia precisamente ser obrigado a ausentar-me da Córsega numa expedição importante. Pensei demoradamente e, no pressentimento de evitar qualquer desgraça, decidi levar Benedetto comigo. Esperava que a vida activa e dura de contrabandista e a disciplina rigorosa de bordo modificassem aquele carácter prestes a corromper-se, se não estivesse já horrivelmente corrompido.

«Chamei portanto Benedetto de parte e propus-lhe que me acompanhasse, rodeando a proposta de todas as promessas que podem seduzir um garoto de doze anos.

«Deixou-me ir até ao fim, e quando acabei desatou a rir.

«- Enlouqueceu, meu tio? - perguntou (tratava-me assim quando estava de bom humor) - Eu trocar a vida que levo pela que você leva, a minha boa e excelente ociosidade pelo horrível trabalho que lhe é imposto? Passar a noite ao frio e o dia ao calor, esconder-me constantemente, não me poder mostrar para não ser corrido a tiro de espingarda, e tudo isso para ganhar algum dinheiro?... Dinheiro tenho eu todo o que quero! A minha mãe Assunta dá-mo assim que lhe peço. Bem vê, portanto, que seria um imbecil se aceitasse a sua proposta.»

«Fiquei estupefacto com semelhante audácia e semelhante raciocínio. Benedetto voltou para junto dos seus camaradas e vi-o de longe apontar-me a eles como um idiota.

- Encantadora criança! - murmurou Monte-Cristo.

- Oh, se me pertencesse - respondeu Bertuccio -, se fosse meu filho, ou pelo menos meu sobrinho, tê-lo-ia trazido ao bom caminho, porque a consciência dá-nos força! Mas a ideia de bater numa criança cujo pai matara tornava-me todo e qualquer castigo impossível. Dava bons conselhos à minha cunhada, que nas nossas discussões tomava constantemente a defesa do «Pobrezinho», e como me confessasse que por várias vezes lhe tinham desaparecido importâncias consideráveis, indiquei-lhe um sitio onde poderia esconder o nosso pequeno tesouro. Quanto a mim, a minha resolução estava tomada. Benedetto sabia perfeitamente ler, escrever e contar, porque quando por acaso se dispunha a trabalhar aprendia num dia o que os outros aprendiam numa semana.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069