O Conde de Monte Cristo - Cap. 44: A vendetta Pág. 436 / 1080

Mas, dizia eu, a minha resolução estava tomada: tencionava matriculá-lo como secretário em qualquer navio de longo curso e, sem o prevenir de nada, mandar deitar-lhe a mão uma bela manhã e levá-lo para bordo. Assim, e recomendando-o ao comandante, todo o seu futuro dependeria dele. Tudo planeado, parti para França.

«Daquela vez todas as nossas operações deveriam efectuar-se no golfo de Lião, o que era cada vez mais difícil, pois estávamos em 1829. A tranquilidade encontrava-se perfeitamente restabelecida, e por consequência o serviço de vigilância das costas tornara-se mais regular e rigoroso do que nunca. A vigilância fora ainda aumentada momentaneamente devido à feira de Beaucaire, que acabava de abrir.

«Os princípios da expedição decorreram sem contratempos.

Amarrámos a nossa barca, que tinha um fundo duplo, onde escondíamos as mercadorias de contrabando, no meio de uma quantidade de barcos que cobriam as duas margens do Ródano, de Beaucaire a Arles. Uma vez chegados, começamos a descarregar de noite as nossas mercadorias proibidas e a passá-las para a cidade por intermédio de pessoas relacionadas connosco ou de estalajadeiros em casa dos quais tínhamos depósitos. Quer porque o êxito nos tivesse tornado imprudentes, quer por termos sido denunciados, uma tarde, por volta das cinco horas, quando nos preparávamos para merendar, o nosso grumete apareceu muito assustado dizendo que vira uma patrulha de guardas-fiscais dirigir-se para o nosso lado. Não era precisamente a patrulha que nos preocupava; a cada instante, sobretudo naquele momento, companhias inteiras percorriam as margens do Ródano. O que nos preocupava eram as precauções que, no dizer do pequeno, a patrulha tomava para não ser vista. Levantámo-nos imediatamente, mas era demasiado tarde; a nossa barca, evidentemente o alvo das buscas, estava cercada.

Entre os guardas-fiscais notei alguns gendarmes; e, tão medroso diante deles como era habitualmente corajoso diante de qualquer outro corpo militar, desci ao porão e, esgueirando-me por uma escotilha, deixei-me levar pelo rio e depois nadei entre duas águas, só respirando a grandes intervalos, até que alcancei, sem ser visto, uma vala que acabavam de abrir e que punha em comunicação o Ródano com o canal que vai de Beaucaire a Aigues-Mortes. Uma vez lá chegado, estava salvo, pois podia seguir sem ser visto ao longo da vala. Cheguei portanto ao canal sem contratempos. Não fora por acaso e sem premeditação que seguira aquele caminho, já falei a V. Ex.a de um estalajadeiro, de Nímes que abrira na estrada de Bellegarde a Beaucaire uma pequena hospedaria.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069