O Conde de Monte Cristo - Cap. 52: Toxicologia Pág. 508 / 1080

Conversámos demoradamente, minha senhora, de várias coisas: de Perusino, de Rafael, dos hábitos, dos costumes e da famosa água-tofana, cujo segredo, segundo creio algumas pessoas lhe tinham dito, conservavam ainda em Perúsia.

- Ah, é verdade, já me lembro! - disse vivamente a Sr.ª de Villefort, com certo nervosismo.

- Já me não recordo em pormenor do que me disse, minha senhora -prosseguiu o conde com perfeita calma -, mas lembro-me perfeitamente de que, compartilhando a meu respeito o erro geral, me consultou acerca da saúde de Mademoiselle deVillefort.

- No entanto, senhor, não há dúvida que se não fosse realmente médico não curaria doentes - observou a Sr.ª de Villefort.

- Molière ou Beaumarchais responder-lhe-iam, minha senhora, que exactamente por o não ser é que, em vez de curar os meus doentes, os meus doentes se curaram. Por mim, limito-me a dizer-lhe que estudei bastante a fundo a química e as ciências naturais, mas apenas como curioso... compreende?

Neste momento deram seis horas.

- Já seis horas! - exclamou a Sr.ª de Villefort, visivelmente agitada. - Não vai ver, Valentine, se o seu avô está pronto para jantar?

Valentine levantou-se, cumprimentou o conde e saiu da sala semdizer palavra.

- Meu Deus, minha senhora, foi por minha causa que mandou Mademoiselle de Villefort embora? - perguntou o conde, depois de Valentine sair.

- De modo algum - respondeu vivamente a jovem senhora. - Mas é que são horas de servirmos ao Sr. Noirtier a triste refeição que sustenta a sua pobre existência. Sabe em que estado deplorável se encontra o pai do meu marido, não sabe?

- Sei, sim, minha senhora; o Sr. de Villefort falou-me disso.

Uma paralisia creio.

- Infelizmente! O pobre velho está completamente privado de movimentos. Só a alma vive naquela máquina humana, mas pálida e trémula como uma lamparina prestes a apagar-se. Mas, perdão, senhor, se, para lhe falar dos meus infortúnios domésticos, o interrompi no momento em que me dizia ser um hábil químico.

- Oh, não dizia tanto, minha senhora! - redarguiu o conde, sorrindo. - Muito pelo contrário, estudei química porque, decidido a viver especialmente no Oriente, quis seguir o exemplo do rei Mitridates.

- Mithridates, rex Ponticus - disse o estouvado filho da dona da casa, recortando gravuras de um álbum magnífico -, o mesmo que tomava todas as manhãs uma chávena de veneno com natas ao pequeno-almoço...

- Edouard! Criança insuportável! - exclamou a Sr.ª de Villefort, tirando o livro mutilado das mãos do filho. – O menino é muito mau e faz-nos perder a paciência! Deixe-nos e vá ter com a sua irmã Valentine aos aposentos do avô Noirtier.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069