O Conde de Monte Cristo - Cap. 55: O major Cavalcanti Pág. 545 / 1080

- Sim, é um homem cauteloso.

- É um homem admirável - declarou o lucano. - E ele mandou-lhos?

- Aqui estão.

O lucano juntou as mãos em sinal de admiração.

- O senhor casou com Oliva Corsinari na Igreja de S. Paulo de Monte-Cattini. Aqui está a certidão do padre.

- Sim, é verdade, aí está! - confirmou o major, olhando o documento com espanto.

- E aqui está também a certidão de baptismo de Andrea Cavalcanti, passada pelo pároco de Saravezza.

- Tudo em regra - disse o major.

- Vamos, tome conta destes documentos, que para mim não tem interesse, e dê-os ao seu filho para que os guarde cuidadosamente.

- Pois sim. Se ele os perdesse...

- Como, se ele os perdesse?! - saltou Monte-Cristo.

- Bom, teríamos de escrever para Itália e levaria muito tempo a arranjar outros - concluiu o lucano.

- De facto, seria difícil - concordou Monte-Cristo.

- Quase impossível - acrescentou o lucano.

- Folgo muito por o senhor compreender o valor destes documentos.

- Enfim, devo considerá-los inestimáveis.

- Agora - disse Monte-Cristo -, quanto à mãe do rapaz?...

- Quanto à mãe do rapaz... - repetiu o major, inquieto.

- Sim, quanto à marquesa Corsinari?

- Meu Deus! - exclamou o lucano, que tinha a sensação de as dificuldades lhe nascerem debaixo dos pés. - Haverá necessidade dela?

- Não, senhor - respondeu Monte-Cristo. - Aliás, ela não?...

- Claro, claro! - apressou-se a dizer o major. - Ela...

- Pagou o seu tributo à natureza, não é verdade?

- Infelizmente, pagou! - confirmou o lucano.

- Também soube isso - declarou Monte-Cristo. - Morreu há dez anos.

- E ainda choro a sua morte, senhor - disse o major, tirando da algibeira um lenço de quadrados e limpando alternadamente primeiro o olho esquerdo e depois o olho direito.

- Que quer, somos todos mortais... - confortou-o Monte-Cristo. - Agora espero que compreenda, caro Sr. Cavalcanti, espero que compreenda que é inútil saber-se em França que esteve quinze anos separado do seu filho. Todas essas histórias de ciganos que raptam crianças não são correntes aqui. O senhor pô-lo a educar num colégio de província e deseja que acabe a sua educação na sociedade parisiense. Por isso o senhor deixou Via-Reggio, onde morava desde a morte da sua mulher. Isto bastará.

- Acha?

- Certamente.

- Muito bem, então.

- Mas se se soubesse alguma coisa acerca dessa separação...

- Ah, sim! Que diria?

- Que um perceptor infiel, vendido aos inimigos da sua família...

- Aos Corsinari?

- Certamente... raptara a criança para que o seu nome se extinguisse.

- Está certo, porque ele é filho único.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069