O Conde de Monte Cristo - Cap. 61: Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos Pág. 592 / 1080

- E de quanto é a pensão?

- Cem escudos (cerca de trezentos francos)

- Pobre humanidade! - murmurou Monte-Cristo.

- Que diz, senhor?... - perguntou o funcionário.

- Digo que é muito interessante.

- O quê?

- Tudo o que me mostra... e o senhor não percebe nada, absolutamente nada dos seus sinais?

- Absolutamente nada.

- Nunca tentou compreendê-los?

- Nunca. Para quê?

- No entanto, há sinais que lhe são destinados directamente.

- Sem dúvida.

- E esses compreende-os?

- São sempre os mesmos.

- E que dizem?

- «Nada de novo», «Tem uma hora», ou «Até amanhã»

- Nada mais simples - observou o conde.

- Mas repare, não é o seu correspondente que se está a pôr em movimento?

- É verdade. Obrigado, senhor.

- Que lhe diz ele? É alguma coisa que o senhor compreenda?

- É. Pergunta-me se estou pronto.

- E que lhe responde?

- Respondo-lhe com um sinal que informa ao mesmo tempo o meu correspondente da direita que estou pronto e convida o meu correspondente da esquerda a preparar-se por seu turno.

- Muito engenhoso - disse o conde.

- Vai ver - prosseguiu o homenzinho com orgulho. - Dentro de cinco minutos começa a transmitir.

- Tenho portanto cinco minutos - disse Monte-Cristo. - É mais do que preciso. Meu caro senhor - prosseguiu -, permite-me que lhe faça uma pergunta?

- Decerto.

- Gosta da jardinagem?

- Com paixão.

- E seria feliz se em vez de ter um bocado de terreno de vinte pés tivesse um recinto de duas jeiras?

- Senhor, faria dele um paraíso terrestre.

- Vive mal com os seus mil francos?

- Bastante mal. Mas enfim, vivo...

- Pois sim, mas tem apenas um jardim miserável.

- Lá isso é verdade; o jardim não é grande.

- E mesmo assim, tal como é, está minado de ratos que lhe devoram tudo.

- Isso é o meu flagelo.

- Diga-me uma coisa: se por descuido virasse a cabeça quando o correspondente da direita começasse a transmitir, que aconteceria?

- Não o veria.

- E que aconteceria?

- Não poderia repetir os sinais.

- E depois?

- Não os tendo repetido por negligência, seria multado.

- Em quanto?

- Cem francos.

- A décima parte do seu vencimento. Bonito!

- Ah! - suspirou o funcionário.

- Já lhe aconteceu isso? - perguntou Monte-Cristo.

- Uma vez, senhor, uma vez, em que me entretive a enxertar uma roseira cor de avelã.

- Bem. E agora, se se atrevesse a alterar qualquer coisa ao sinal ou a transmitir outro?

- Nesse caso, seria diferente: seria despedido e perderia a minha pensão.

- Trezentos francos?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069