O Conde de Monte Cristo - Cap. 8: O Castelo de If Pág. 61 / 1080

- Vão-me encarcerar lá? - continuou Dantès. - Mas o Castelo de If é uma prisão de Estado destinada apenas aos grandes criminosos políticos. Ora, eu não cometi nenhum crime. No Castelo de If existem, porventura, juízes de instrução ou quaisquer outros magistrados?

- Suponho que só existe um governador, carcereiros, uma guarnição e bons muros. Vamos, vamos, amigo, não mostre tanto espanto; porque na verdade far-me-ia supor que retribui a minha condescendência troçando de mim.

Dantès apertou a mão do gendarme como se lha quisesse partir.

- Pretende - insistiu - que me conduzem ao Castelo de If para lá me encerrar?

- É provável - respondeu o gendarme. - Seja como for, camarada, é inútil apertar-me a mão com tanta força.

- Sem mais investigações, sem mais formalidades? - perguntou o jovem.

- As formalidades estão preenchidas e as investigações concluídas.

- Assim, apesar da promessa do Sr. de Villefort?...

- Não sei se o Sr. de Villefort lhe fez alguma promessa - redarguiu o gendarme -, mas o que sei é que vamos para o Castelo de If. Eh, lá, que está a fazer?! A mim, camaradas, a mim!

Num gesto rápido como um relâmpago, mas que no entanto fora previsto pelo olhar experiente do gendarme, Dantès quisera lançar-se ao mar. Mas quatro mãos vigorosas seguraram-no no momento em que os seus pés deixavam o fundo do barco e fizeram-no cair dentro dele bramindo de raiva.

- Ora aí está! - exclamou o gendarme, pondo-lhe um joelho no peito. - Ora aí está como cumpre a sua palavra de marinheiro. Vamo-nos lá fiar em gente de falinhas mansas... Pois agora, meu caro amigo, se fizer um movimento, um só, meto-lhe uma bala na cabeça. Não cumpri a minha primeira ordem, mas garanto-lhe que cumprirei a segunda.

E baixou efetivamente a carabina na direção de Dantès, que sentiu encostar-se-lhe a ponta do cano à têmpora.

Por um instante sentiu a tentação de fazer o movimento proibido e de acabar assim, violentamente, com a desgraça inesperada que se abatera sobre ele e o tomara de súbito nas suas garras de abutre. Mas precisamente por essa desgraça ser inesperada, Dantès pensou que não podia ser duradoura.

Depois, acudiram-lhe ao espírito as promessas do Sr. De Villefort; por último, forçoso é dizê-lo, a morte no fundo de um barco, dada pela mão de um gendarme, pareceu-lhe indecorosa e indigna.

Deixou-se cair no fundo do barco, soltando um bramido de raiva e mordendo as mãos com furor.

Quase no mesmo instante um choque violento sacudiu o escaler.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069