O Conde de Monte Cristo - Cap. 8: O Castelo de If Pág. 60 / 1080

Que diriam os homens que o olhavam se o ouvissem gritar como um insensato? Ficou portanto mudo e com os olhos cravados naquela luz.

Entretanto, o barco continuava a sua rota. Mas o prisioneiro não pensava no escaler, pensava em Mercédès. Um acidente de terreno fez desaparecer a luz. Dantès virou-se e verificou que o barco se dirigia para o largo.

Enquanto olhava, absorto nos seus próprios pensamentos, tinham substituído os remos por velas e o barco avançava agora impelido pelo vento.

Apesar da repugnância que Dantès experimentava em dirigir ao gendarme novas perguntas, aproximou-se dele e disse-lhe, pegando-lhe na mão:

- Camarada, em nome da sua consciência e da sua qualidade de soldado peço-lhe que tenha compaixão de mim e me responda. Sou o comandante Dantès, bom e leal francês, apesar de acusado de não sei que traição. Para onde me levam? Diga-mo e, palavra de marinheiro, cumprirei o meu dever e resignar-me-ei com a minha sorte.

O gendarme coçou a orelha e olhou para o seu camarada. Este fez um gesto que significava pouco mais ou menos: «Parece-me que no ponto em que estamos não há inconveniente.» O outro virou-se então para Dantès e disse-lhe:

- O senhor é marselhês e marinheiro e ainda nos pergunta para onde vamos?

- Pergunto porque, pela minha honra, ignoro-o.

- Nem, desconfia?

- De modo nenhum.

- Não é possível.

- Juro-lhe pelo que tenho de mais sagrado no mundo. Responda-me, por piedade!

- Mas as ordens?

- As ordens não o proíbem de me informar do que saberei dentro de dez minutos, de meia hora ou talvez de uma hora. Apenas me poupará, entretanto, séculos de incerteza. Peço-lhe como se fosse meu amigo. Repare, não pretendo revoltar-me nem fugir. De resto, não posso. Para onde vamos?

- A menos que tenha uma venda nos olhos ou que nunca tenha saído do porto de Marselha, deve no entanto adivinhar para onde vai.

- Não.

- Nesse caso, olhe à sua volta.

Dantès levantou-se, olhou naturalmente para o ponto para onde parecia dirigir-se o barco e, cem toesas à sua frente, viu erguer-se a rocha negra e escarpada em que se elevava, com uma superfetação do sílex, o sombrio Castelo de If.

Aquela forma estranha, aquela prisão envolta em tão profundo terror, aquela fortaleza que havia trezentos anos impunha as suas lúgubres tradições a Marselha, aparecendo assim de repente a Dantès, que não pensava nela, produziu-lhe o efeito que produza o condenado à morte o aspeto do cadafalso.

- Ah, meu Deus, o Castelo de If! - exclamou. - E que vamos lá fazer? - o gendarme sorriu.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069