Entretanto, o barco continuava a sua rota. Mas o prisioneiro não pensava no escaler, pensava em Mercédès. Um acidente de terreno fez desaparecer a luz. Dantès virou-se e verificou que o barco se dirigia para o largo.
Enquanto olhava, absorto nos seus próprios pensamentos, tinham substituído os remos por velas e o barco avançava agora impelido pelo vento.
Apesar da repugnância que Dantès experimentava em dirigir ao gendarme novas perguntas, aproximou-se dele e disse-lhe, pegando-lhe na mão:
- Camarada, em nome da sua consciência e da sua qualidade de soldado peço-lhe que tenha compaixão de mim e me responda. Sou o comandante Dantès, bom e leal francês, apesar de acusado de não sei que traição. Para onde me levam? Diga-mo e, palavra de marinheiro, cumprirei o meu dever e resignar-me-ei com a minha sorte.
O gendarme coçou a orelha e olhou para o seu camarada. Este fez um gesto que significava pouco mais ou menos: «Parece-me que no ponto em que estamos não há inconveniente.» O outro virou-se então para Dantès e disse-lhe:
- O senhor é marselhês e marinheiro e ainda nos pergunta para onde vamos?
- Pergunto porque, pela minha honra, ignoro-o.
- Nem, desconfia?
- De modo nenhum.
- Não é possível.
- Juro-lhe pelo que tenho de mais sagrado no mundo. Responda-me, por piedade!
- Mas as ordens?
- As ordens não o proíbem de me informar do que saberei dentro de dez minutos, de meia hora ou talvez de uma hora. Apenas me poupará, entretanto, séculos de incerteza. Peço-lhe como se fosse meu amigo. Repare, não pretendo revoltar-me nem fugir. De resto, não posso. Para onde vamos?
- A menos que tenha uma venda nos olhos ou que nunca tenha saído do porto de Marselha, deve no entanto adivinhar para onde vai.
- Não.
- Nesse caso, olhe à sua volta.
Dantès levantou-se, olhou naturalmente para o ponto para onde parecia dirigir-se o barco e, cem toesas à sua frente, viu erguer-se a rocha negra e escarpada em que se elevava, com uma superfetação do sílex, o sombrio Castelo de If.
Aquela forma estranha, aquela prisão envolta em tão profundo terror, aquela fortaleza que havia trezentos anos impunha as suas lúgubres tradições a Marselha, aparecendo assim de repente a Dantès, que não pensava nela, produziu-lhe o efeito que produza o condenado à morte o aspeto do cadafalso.
- Ah, meu Deus, o Castelo de If! - exclamou. - E que vamos lá fazer? - o gendarme sorriu.