O Conde de Monte Cristo - Cap. 65: Cena conjugal Pág. 625 / 1080

Desses seiscentos mil francos a senhora recebeu cinquenta mil escudos. Eram seus, dispôs deles como muito bem entendeu e não lhe peço contas. Mas nem por isso é menos verdade que recebeu este ano quinhentas mil libras.

- E depois, senhor?

- Ah, sim, e depois! Aí é que precisamente o gato vai às filhós.

- Tem cada maneira de se exprimir... na verdade...

- Dizem o que quero dizer e isso é tudo o que pretendo. Depois, há três dias... Há três dias a senhora falou de política com o Sr. Debray e julgou adivinhar nas suas palavras que D. Carlos regressara a Espanha. Então vendi os meus títulos, a notícia espalhou-se, houve pânico e em vez de vender acabei por dar. No dia seguinte descobre-se que a notícia era falsa e devido a essa falsa notícia perdi setecentos mil francos!

- E depois?

- E depois?... Se lhe dou um quarto quando ganho, a senhora deve-me um quarto quando perco. Ora, um quarto de setecentos mil francos são cento e setenta e cinco mil francos.

- Tudo o que tem estado para aí a dizer é extravagante e não vejo por que motivo mistura o nome do Sr. Debray em toda essa história.

- Porque se por acaso não tem os cento e setenta e cinco mil francos que reclamo, terá de os pedir emprestados aos seus amigos e o Sr. Debray é um dos seus amigos.

- Era o que faltava! - gritou a baronesa.

- Oh, deixe-se de gestos, de gritos, de drama moderno, minha senhora! De contrário, obrigar-me-á a dizer-lhe que já estou a ver o Sr. Debray a rir junto das quinhentas mil libras que a senhora lhe deu este ano e dizendo para consigo que descobriu finalmente o que nem os mais hábeis jogadores nunca descobriram, ou seja, uma roleta onde se ganha sem entrar no jogo e onde não se perde quando se perde.

A baronesa explodiu.

- Miserável! Atreve-se a dizer-me que não sabia o que hoje ousa censurar-me?

- Não lhe digo que sabia nem lhe digo que não sabia; digo-lhe: observe o meu comportamento desde que há quatro anos não é minha mulher e que não sou seu marido e verá se não tem sido sempre consequente consigo mesmo. Algum tempo antes do nosso rompimento, a senhora desejou estudar música com aquele famoso barítono que se estreou com tanto êxito no Teatro Italiano e eu quis estudar dança com aquela bailarina que adquirira tão grande fama em Londres. Isso custou-me, tanto pela sua parte como pela minha, perto de cem mil francos. Não disse nada, porque deve haver harmonia no lar. Cem mil francos para que o homem e a mulher saibam bem a fundo dança e música não é muito caro. Mas a senhora não tardou a aborrecer-se do canto e a vir-lhe à ideia estudar diplomacia com um secretário de um ministro. Deixei-a estudar...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069