O Conde de Monte Cristo - Cap. 67: No gabinete do Procurador Régio Pág. 644 / 1080

- Por um instante pensei que isso me acontecesse, mas não tive essa sorte. Entretanto, apelando para a minha energia e por consequência para as minhas ideias, perguntei a mim mesmo: “Porque teria o homem levado o cadáver?”

- O senhor já o disse: para ter uma prova - lembrou a Sr.ªDanglars.

- Não, não, minha senhora, já não podia ser isso. Ninguém guarda um cadáver durante um ano; mostra-o a um magistrado e faz o seu depoimento. Ora nada semelhante acontecera.

- Bom, e então?... - perguntou Hermine toda palpitante.

- Então, tratava-se de qualquer coisa mais terrível, mais fatal, mais assustadora para nós: a criança estava talvez viva e o assassino salvara-a.

A Sr.ª Danglars soltou um grito terrível e agarrou as mãos de Villefort.

- O meu filho estava vivo! O senhor enterrou o meu filho vivo! Garantira-me que o meu filho estava morto e enterrou-o... Oh!

A Sr.ª Danglars levantara-se e mantinha-se de pé e quase ameaçadora diante do procurador régio, cujos pulsos apertava com as mãos delicadas.

- Que queria que lhe dissesse? Disse-lhe isso como lhe poderia dizer outra coisa - redarguiu Villefort com uma fixidez de olhar indicadora de que aquele homem tão poderoso estava prestes a atingir os limites do desespero e da loucura.

- Ah, meu filho, meu pobre filho! - gritou a baronesa, caindo de novo na cadeira e abafando os soluços com o lenço.

Villefort caiu em si e compreendeu que para desviar a tempestade materna que se acumulava sobre a sua cabeça era necessário que a Sr.ª Danglars se recompusesse do terror que ele próprio experimentava.

- Como deve compreender, se o caso é assim, estamos perdidos disse, levantando-se por seu turno e aproximando-se da baronesa para lhe falar em voz mais baixa. - Essa criança vive, alguém sabe que vive, alguém possui o nosso segredo. E uma vez que Monte-Cristo fala diante de nós de uma criança desenterrada de um local onde essa criança já não existia, quem está de posse do segredo é ele.

- Deus, Deus justo, Deus vingador! - murmurou a Sr.ª Danglars.

Em resposta, Villefort limitou-se a soltar uma espécie de rugido.

- Mas e essa criança, essa criança, senhor? - insistiu a mãe, obstinada.

- Oh, o que a procurei! - respondeu Villefort, torcendo os braços. - Quantas vezes a chamei nas minhas longas noites sem sono! Quantas vezes desejei possuir uma riqueza real para comprar um milhão de segredos a um milhão de homens e encontrar o meu segredo entre os deles! Enfim, um dia em que pela centésima vez pegava na enxada, perguntei a mim mesmo também pela centésima vez que teria o corso feito da criança.

Uma criança estorva um fugitivo...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069