O Conde de Monte Cristo - Cap. 70: O baile Pág. 664 / 1080

Já o dissemos: o conde, quer por prestígio fictício, quer por prestígio natural, atraía a atenção em toda a parte onde se apresentava. Não era a sua casaca preta, de corte impecável, é certo, mas simples e sem condecorações; não era o seu colete branco sem qualquer bordadura; não eram as suas calças, que se ajustavam a um pé da forma mais delicada, que atraíam a atenção: eram a sua tez mate, o seu cabelo preto, ondulado, era o seu rosto calmo e puro, era o seu olhar profundo e melancólico, era finalmente a sua boca desenhada com uma delicadeza maravilhosa, e que adquiria facilmente a expressão de um alto desdém, que levavam todos os olhos a fixarem-se nele.

Poderia haver homens mais belos, mas não os havia, sem dúvida, mais significativos, passe a expressão. Tudo no conde queria dizer qualquer coisa e tinha o seu valor; porque o hábito do pensamento útil dera às suas feições, à expressão do seu rosto e ao mais insignificante dos seus gestos uma flexibilidade e uma firmeza incomparáveis.

No entanto, a nossa sociedade parisiense é tão estranha que ele talvez não tivesse despertado a atenção por tudo isso se debaixo de tudo isso não houvesse uma história misteriosa dourada por uma imensa fortuna.

Como quer que fosse, adiantou-se sob o peso dos olhares e, trocando pelo caminho breves cumprimentos, até à Sr.ª de Morcerf, que de pé diante da chaminé guarnecida de flores o vira aparecer num espelho colocado defronte da porta e se preparava para o receber.

Virou-se portanto para ele com um sorriso grave precisamente no momento em que Monte-Cristo se inclinava diante dela.

A condessa supôs, sem dúvida, que o conde lhe dirigiria a palavra, e pela sua parte ele também imaginou, sem dúvida, que ela lhe falaria; mas ambos ficaram mudos, de tal forma uma banalidade lhes pareceu, decerto, indigna deles. E após uma troca de cumprimentos, Monte-Cristo dirigiu-se para Albert, que vinha ao seu encontro de mão aberta.

- Viu a minha mãe? - perguntou Albert.

- Acabo de ter a honra de a cumprimentar - respondeu conde -, mas ainda não vi o seu pai.

- Olhe, conversa de política ali, naquele grupinho de grandes celebridades.

- Na verdade aqueles cavalheiros são celebridades? - admirou-se Monte-Cristo. - Nunca o suporia! E de que género? Há celebridades de toda a espécie, como sabe.

- Em primeiro lugar, um sábio, aquele cavalheiro alto e magro: descobriu na campina de Roma uma espécie de lagarto que tem mais uma vértebra do que os outros e essa descoberta valeu-lhe fazer parte do Instituto. A coisa foi durante muito tempo contestada, mas enfim o cavalheiro alto e magro levou a melhor. A vértebra causara grande alvoroço no mundo científico.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069