- Monte-Cristo é o nome de uma ilha e ele tem um nome de família.
- Nunca lho ouvi pronunciar.
- Então estou mais adiantada do que o senhor. Ele chama-se Zaccone.
- É possível.
- E é maltês.
- Também é possível.
- Filho de um armador.
- Oh, mas na verdade a senhora devia contar essas coisas ali, em voz alta! Teria o maior êxito.
- Serviu na Índia, explora uma mina de prata na Tessália e veio a Paris para montar um estabelecimento de águas minerais em Auteuil.
- Que grandes notícias! - exclamou Morcerf. - Permite-me que as repita?
- Pois sim, mas pouco a pouco, uma a uma, sem dizer que provêm de mim.
- Porquê?
- Porque é quase um segredo roubado.
- A quem?
- À Polícia.
- Então essas notícias espalhavam-se...
- Ontem à noite, em casa do prefeito. Paris impressionou-se, como sabe, perante aquele luxo inusitado e a Polícia tirou informações.
- Muito bem. Só faltava prender o conde como vagabundo a pretexto de ser demasiado rico.
- Era o que poderia muito bem acontecer-lhe se as informações não fossem tão favoráveis.
- Pobre conde! Desconfia do perigo que correu?
- Não creio.
- Então será uma obra de caridade avisá-lo. Não deixarei de o fazer quando ele chegar.
Neste momento um bonito rapaz de olhos vivos, cabelo preto e bigode brilhante veio cumprimentar respeitosamente a Sr.ª de Villefort. Albert estendeu lhe a mão.
- Minha senhora - disse Albert -, tenho a honra de lhe apresentar o Sr. Maximilien Morrel, capitão de sipaios, um dos nossos bons e sobretudo dos nossos bravos oficiais.
- Já tive o prazer de encontrar este senhor em Auteuil, em casa do Sr. Conde de Monte-Cristo - respondeu a Sr.ª de Villefort, virando-se com acentuada frieza.
Esta resposta, e sobretudo o tom em que foi dada, apertou o coração do pobre Morrel. Mas estava-lhe reservada uma compensação: ao voltar-se, descobriu à porta uma bela figura branca cujos olhos azuis, dilatados e sem expressão aparente, se cravavam nele, enquanto o ramo de miosótis lhe subia lentamente aos lábios.
Este cumprimento foi tão bem compreendido que Morrel, com a mesma expressão no olhar, aproximou por sua vez o lenço da boca. E as duas estátuas vivas, cujo coração pulsava rapidamente sob o mármore aparente do rosto, separadas uma da outra por toda a largura da sala, esqueceram-se por um instante, ou antes, por um instante esqueceram toda a gente naquela muda contemplação. E poderiam ter ficado muito mais tempo assim absortas uma na outra, sem que ninguém notasse o seu alheamento de tudo e de todos, se o conde de Monte-Cristo não acabasse de entrar.