O Conde de Monte Cristo - Cap. 71: O pão e o sal Pág. 668 / 1080

Capítulo LXXI - O pão e o sal

A Sr.ª de Morcerf entrou debaixo da abóbada de folhagem com o companheiro. A abóbada era formada pelas árvores de uma alameda de tílias que conduzia a uma estufa.

- Fazia demasiado calor no salão, não é verdade, Sr. Conde?

- É, sim, minha senhora, e a sua ideia de mandar abrir as portas e as persianas foi uma excelente ideia.

Quando acabou de proferir estas palavras, o conde notou que a mão de Mercédès tremia.

- Mas a senhora, com esse vestido leve e sem mais nada a agasalhar-lhe o pescoço do que essa charpa de gaze, não irá talvez ter frio? - perguntou.

- Sabe aonde o levo? - inquiriu a condessa, sem responder à pergunta de Monte-Cristo.

- Não, minha senhora - respondeu ele. - Mas, como vê, não oponho resistência.

- À estufa que vê ali, ao fundo desta alameda.

O conde olhou Mercédès como se a quisesse interrogar, mas ela continuou o seu caminho sem nada dizer e pela sua parte Monte-Cristo também se manteve calado.

Chegaram à estufa, cheia de frutos magníficos, que desde o principio de Julho ali amadureciam debaixo de uma temperatura sempre regulada de forma a substituir o calor do sol, tantas vezes ausente entre nós.

A condessa largou o braço de Monte-Cristo e foi colher a uma cepa um cacho de uvas moscatéis.

- Tome, Sr. Conde - ofereceu com um sorriso tão triste que se lhe viram as lágrimas surgir à beira dos olhos. - Tome. As nossas uvas de França não são comparáveis, bem sei, às uvas da Sicília e de Chipre, mas o senhor será indulgente com o nosso pobre sol do Norte.

O conde inclinou-se e deu um passo atrás.

- Recusa o que lhe ofereço? - perguntou Mercédès, com voz trémula.

- Minha senhora - respondeu Monte-Cristo -, peço-lhe muito humildemente que me desculpe, mas nunca como uvas moscatéis.

Mercédès deixou cair o cacho, suspirando. Um pêssego magnífico pendia de uma espaldeira vizinha, aquecido, como a vide, pelo calor artificial da estufa. Mercédès aproximou-se do fruto aveludado e colheu-o.

- Tome então este pêssego - ofereceu.

Mas o conde fez o mesmo gesto de recusa.

- Oh, também?! - exclamou ela em tom tão magoado que se adivinhava conter um soluço. - Na verdade, estou com pouca sorte.

A esta cena seguiu-se um longo silêncio. O pêssego, como o cacho de uvas, jazia no saibro.

- Sr. Conde - prosseguiu finalmente Mercédès, pousando em Monte-Cristo um olhar suplicante -, há um comovente costume árabe que torna amigos eternos aqueles que partilham o pão e o sal debaixo do mesmo tecto...





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069