O Conde de Monte Cristo - Cap. 73: A promessa Pág. 687 / 1080

Um tremor convulso agitou os membros de Valentine. Largou o portão, que segurava com ambas as mãos, os braços caíram-lhe ao longo do corpo e duas grossas lágrimas rolaram-lhe pelas faces.

O rapaz ficou diante dela, sombrio e resoluto.

- Oh, por piedade, por piedade! - exclamou Valentine. - Viverá, não é verdade?

- Palavra de honra que não - respondeu Maximilien. - Mas que lhe interessa isso? Cumprirá o seu dever e ficará com a consciência tranquila.

Valentine caiu de joelhos e comprimiu o coração, que parecia querer rebentar-lhe.

- Maximilien - disse -, Maximilien, meu amigo, meu irmão na Terra, meu verdadeiro esposo no Céu, suplico-te que faças, como eu, que vivas com o sofrimento. Talvez um dia nos juntemos...

- Adeus, Valentine! - repetiu Morrel.

- Meu Deus - disse Valentine, erguendo as mãos ao céu com uma expressão sublime -, bem vês que fiz tudo o que podia para me conservar filha submissa: pedi, supliquei, implorei, mas ele não ouviu nem os meus pedidos, nem as minhas súplicas, nem as minhas lágrimas. Pois bem - continuou, enxugando as lágrimas e recuperando a sua firmeza -, não quero morrer de remorsos, prefiro morrer de vergonha. Viverá, Maximilien, e não serei de ninguém a não ser de si. A que horas? Em que momento? Imediatamente? Fale, ordene, estou pronta.

Morrel, que dera de novo alguns passos para se afastar, voltou para trás e, pálido de alegria, com o coração dilatado, estendeu através das grades as mãos a Valentine.

- Valentine - disse -, querida amiga, não me fale assim ou então terei de me deixar morrer. Por que motivo a deveria à violência, se me ama como a amo? Quer obrigar-me a viver apenas por humanidade? Nesse caso, prefiro morrer.

- Na verdade - murmurou Valentine -, quem é que me ama no mundo? Ele. Quem me tem confortado em todos os meus sofrimentos? Ele. Em quem deposito as minhas esperanças, em quem se fixa o meu olhar transviado, em que descansa o meu coração ensanguentado? Nele, nele, sempre nele. Pois bem, tens também razão, Maximilien: seguir-te-ei, deixarei a casa paterna, tudo. Oh, como sou ingrata! - exclamou Valentine, soluçando. - Tudo... Até do meu avô me esquecia!

- Não - atalhou Maximilien -, não o deixarás. Disseste-me que o Sr. Noirtier pareceu manifestar simpatia por mim. Pois antes de fugires contar-lhe-ás tudo, farás do seu consentimento um escudo perante Deus. Depois, assim que casarmos, irá viver connosco. Em vez de um neto terá dois. Disseste-me como te falava e como lhe respondias, depressa aprenderei essa linguagem comovente de sinais, Valentine.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069