O Conde de Monte Cristo - Cap. 73: A promessa Pág. 699 / 1080

Morrel estremeceu, pois toda a conversa do médico e do Sr. de Villefort lhe acudiu ao espírito, e através do lençol julgava ver os braços contorcidos, o pescoço rígido e os lábios roxos da morta.

- Vozes dos seus criados revelaram-me tudo.

- Mas vir aqui equivale a perder-nos, meu amigo – observou Valentine, sem terror e sem cólera.

- Perdoe-me - respondeu Morrel, no mesmo tom. - Vou-me já retirar.

- Não - redarguiu Valentine. - Encontrá-lo-iam. Fique.

- Mas se vem alguém? - A jovem abanou a cabeça.

- Não virá ninguém, esteja descansado - disse. - Está ali a nossa protecção.

E indicou o cadáver moldado pelo lençol.

- Mas que foi feito do Sr. de Epinay? Diga-me, suplico-lhe - pediu Morrel.

- O Sr. Franz chegou para assinar o contrato no momento em que a minha boa avó exalava o último suspiro.

- Graças a Deus! - exclamou Morrel, com uma sensação de alegria egoísta, pois pensava para consigo mesmo que aquela morte retardaria indefinidamente o casamento de Valentine.

- Mas o que redobra a minha dor - continuou a jovem, como se tal sensação devesse receber imediatamente castigo - é que a pobre e querida avó ordenou, ao morrer, que se efectuasse o casamento o mais cedo possível. Também ela, meu Deus! Julgando proteger-me, também ela agia contra mim.

- Escute! - sussurrou Morrel.

Os dois jovens ficaram silenciosos.

Ouviu-se abrir uma porta e passos fazerem estalar o parqué do corredor e os degraus da escada.

- É o meu pai que sai do seu gabinete - disse Valentine.

- E acompanha o médico - acrescentou Morrel.

- Como sabe que é o médico? - perguntou Valentine, surpreendida.

- Presumo - respondeu Morrel.

Valentine olhou o rapaz.

Entretanto, ouviu-se fechar a porta da rua. O Sr. de Villefort foi ainda dar outra volta à chave da do jardim e em seguida voltou a subir a escada.

Chegado à antecâmara, parou um instante, como se hesitasse se devia entrar no seu quarto ou no quarto da Sr.ª de Saint-Méran. Morrel correu para trás de um reposteiro. Valentine não fez um gesto; dir-se-ia que uma dor suprema a colocava acima dos temores vulgares.

O Sr. de Villefort entrou no seu quarto.

- Agora - disse Valentine - o senhor não pode sair nem pela porta do jardim, nem pela da rua.

Morrel olhou a jovem atónito.

- Agora - continuou ela - só há uma saída possível e segura: a dos aposentos do meu avô.

Levantou-se.

- Venha - disse.

- Aonde? - perguntou Maximilien

- Aos aposentos do meu avô

- Eu, aos aposentos do Sr. Noirtier?!

- Sim.

- Já pensou no que vai fazer, Valentine?

- Já e há muito tempo. Só tenho esse amigo no mundo e ambos precisamos dele... Venha.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069