O Conde de Monte Cristo - Cap. 81: O quarto do padeiro reformado Pág. 787 / 1080

- No primeiro andar, como vês, há a antecâmara, a sala... à direita da sala a biblioteca e o gabinete de trabalho; à esquerda da sala, um quarto de dormir e outro de vestir. É no quarto de vestir que se encontra a famosa secretária.

- E há alguma janela no quarto de vestir?

- Duas: aqui e aqui.

E Andrea desenhou duas janelas na divisão que, na planta, fazia esquina e figurava como um quadrado mais pequeno pegado ao quadrado grande do quarto de dormir.

Caderousse ficou pensativo.

- Ele vai muitas vezes a Auteuil? - perguntou.

- Duas ou três vezes por semana. Amanhã, por exemplo, deve lá ir passar o dia e a noite.

- Tens a certeza?

- Convidou-me para lá ir jantar.

- Ainda bem. Isso é que é vida! - exclamou Caderousse. - Casa na cidade, casa no campo...

- Quando se é rico...

- E tu irás lá jantar?

- Provavelmente.

- Quando jantas, dormes lá?

- Se me apetece... Estou em casa do conde como se estivesse na minha.

Caderousse olhou o rapaz como se quisesse arrancar-lhe a verdade do fundo do coração. Mas Andrea tirou uma charuteira do bolso, escolheu um havano, acendeu-o tranquilamente e começou a fumar sem afectação.

- Quando queres os quinhentos francos? - perguntou a Caderousse.

- Agora, se os tens.

Andrea tirou vinte e cinco luíses da algibeira.

- Amarelinhos? - disse Caderousse. - Não, obrigado!

- Não gostas deles?

- Pelo contrário, aprecio-os muito; mas não os quero.

- Ganharás o cambio, imbecil: o ouro vale mais cinco soldos.

- Pois sim, mas depois o cambista mandará seguir o amigo Caderousse, deitar-lhe-ão a mão e terá de dizer quem são os rendeiros que lhe pagaram a renda em ouro. Deixemo-nos de tolices, pequeno: quero dinheiro corrente, moedas redondas com a efígie de um monarca qualquer. Toda a gente pode ter uma moeda de cinco francos.

- Como deves compreender, não trago comigo quinhentos francos em dinheiro miúdo. Teria de contratar um carregador.

- Está bem, deixa-os no hotel, ao teu porteiro. É um excelente homem. Irei lá buscá-los.

- Hoje?

- Não, amanhã. Hoje não tenho tempo.

- Pois sim, seja. Amanhã, quando partir para Auteuil, deixar-lhos-ei.

- Posso contar com isso?

- Certamente.

- É que vou já ajustar a minha criada...

- Ajusta-a. Mas ponto final, hem? Não me perseguirás mais?

- Nunca mais.

Caderousse tornara-se tão sombrio que Andrea teve de fingir que não notara essa mudança. Redobrou portanto de alegria e despreocupação.

- Estás muito bem disposto - observou Caderousse. - Dir-se-ia que já recebeste a tua herança!

- Ainda não, infelizmente!... Mas no dia em que a receber...

- Que farás?





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069