O Conde de Monte Cristo - Cap. 81: O quarto do padeiro reformado Pág. 786 / 1080

Andrea pegou na pena sorrindo imperceptivelmente e começou.

- A casa, como já te disse, é entre pátio e jardim. Vês? Assim...

E Andrea traçou o jardim, o pátio e a casa.

- Muros altos?

- Não. Oito ou dez pés, no máximo.

- Isso não é prudente - observou Caderousse.

- No pátio, vasos de laranjeiras, relvados e canteiros de flores.

- E armadilhas?

- Não.

- As cavalariças?

- Dos dois lados do portão, aqui onde vês.

E Andrea continuou a traçar a planta.

- Vejamos o rés-do-chão - pediu Caderousse.

- No rés-do-chão, sala de jantar, duas salas, sala de bilhar, escada no vestíbulo e uma escadinha oculta.

- Janelas?

- Janelas magníficas, tão belas, tão largas que, palavra, creio que um homem da tua estatura passaria por cada vidraça.

- Porque têm escadas, se já têm janelas dessas?

- Que queres: o luxo!

- Persianas?

- Sim, têm persianas, mas nunca se servem delas. O conde de Monte-Cristo é um original que gosta de ver o céu mesmo durante a noite!

- E os criados onde dormem?

- Oh, têm a sua residência própria! Imagina um bonito alpendre à direita de quem entra, onde guardam as escadas de mão e outros utensílios. Bom, por cima desse alpendre fica uma série de quartos ocupados pelos criados, com campainhas correspondentes aos seus ocupantes.

- Oh, diabo! Campainhas!

- Que dizes?

- Nada. Digo que custa caríssimo colocar campainhas... E para que serve isso, não me dizes? Dantes, havia um cão que passava a noite no pátio, mas levaram-no para a casa de Auteuil. Sabes, aquela aonde foste...

- Sei.

- Eu ainda ontem lhe dizia: “É imprudente da sua parte, Sr. Conde, porque quando vai para Auteuil e leva os criados, a casa fica só.” “E depois?”, perguntou-me ele. “E depois, um belo dia roubam-no!”

- Que te respondeu?

- Que me respondeu?

- Sim.

- Respondeu: “E depois, que diferença me faz que me roubem?”

- Andrea, deve ter alguma secretária mecânica.

- Que queres dizer?

- Sim, daquelas que apanham o ladrão numa rede e tocam uma música. Disseram-me que havia coisas dessas na última exposição.

- Ele tem apenas uma secretária de mogno, que tenho visto sempre com chave.

- E não o roubam?

- Não, o pessoal que o serve é-lhe todo dedicado.

- Nessa secretária deve haver... uma boa maquia!

- Talvez... É impossível saber o que lá há

- E onde está?

- No primeiro andar.

- Fazes-me a planta do primeiro andar, pequeno, como me fizeste a do rés-do-chão?

- É fácil.

E Andrea voltou a pegar na pena.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069