O Conde de Monte Cristo - Cap. 86: O julgamento Pág. 830 / 1080

»Uma palidez esverdeada invadiu as faces do conde de Morcerf e os seus olhos injectaram-se de sangue ao ouvir aquelas acusações terríveis, que a assembleia acolheu com lúgubre silêncio.

»Haydée, sempre calma, mas muito mais ameaçadora na sua calma do que outra o seria na sua cólera, estendeu ao presidente o registo da venda, redigido em língua árabe.

»Como, se pensara que algumas das provas produzidas fossem redigidas em árabe, romaico ou turco, o intérprete da Câmara fora convocado. Chamaram-no. Um dos nobres pares a quem a língua árabe, que aprendera durante a sublime campanha do Egipto, era familiar seguiu no velino a leitura que o tradutor fez em voz alta: "Eu, El-Kobbir, negociante de escravos e fornecedor do harém, de S. M., reconheço ter recebido para a remeter ao sublime imperador, do senhor francês conde de Monte-Cristo, uma esmeralda avaliada em duas mil bolsas, para pagamento de uma jovem escrava cristã de onze anos de idade, chamada Haydée e filha reconhecida do defunto Sr. Ali-tebelin, paxá de Janina, e de Vasiliki, sua favorita; a qual me fora vendida há sete anos, com sua mãe, que morreu ao chegar a Constantinopla, por um coronel francês ao serviço do vizir Ali-Tebelin, chamado Fernand Mondego. A supracitada venda fora-me feita por conta de S. M., de quem tinha mandato, mediante a quantia de mil bolsas. Feito em Constantinopla, com autorização de S.M., no ano de 1247 da hégira. Assinado, EL-KOBBIR. Para lhe dar toda a fé, todo o crédito e toda a autenticidade, o presente documento será autenticado com o selo imperial, que o vendedor se obriga a que lhe seja aposto."

»Depois da assinatura do negociante, via-se efectivamente o selo do sublime imperador.

»Seguiu-se a tudo isto um silêncio terrível. O conde já só tinha olhos, e esses olhos, presos, mal-grado seu, a Haydée, pareciam de lume e de sangue.

»- Minha senhora, poderemos interrogar o conde de Monte-Cristo, que se encontra em Paris consigo, segundo creio? - perguntou o presidente.

»- Senhor - respondeu Haydée -, o conde de Monte-Cristo, meu outro pai, está na Normandia há três dias.

»- Mas então, minha senhora, quem lhe aconselhou esta diligência, que a comissão lhe agradece e que, aliás, é perfeitamente natural em face do seu nascimento e dos seus infortúnios? - perguntou o presidente.

»- Senhor - respondeu Haydée -, esta diligência foi-me aconselhada pelo meu respeito e pela minha dor. Apesar de cristã, sempre pensei (Deus me perdoe!) vingar o meu ilustre pai.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069