O Conde de Monte Cristo - Cap. 101: Locusta Pág. 946 / 1080

- Não, Valentine, não, porque previ todas as conspirações. Não, porque a nossa inimiga está vencida, uma vez que foi descoberta. Não, viverá, Valentine, viverá para amar e ser amada, viverá para ser feliz e tornar feliz um nobre coração. Mas para viver, Valentine, tem de ter confiança em mim.

- Ordene, senhor. Que devo fazer?

- Deve tomar cegamente o que lhe darei

- Oh, Deus é testemunha de que se estivesse sozinha preferiria morrer! - exclamou Valentine.

- Não dirá nada a ninguém, nem mesmo ao seu pai.

- O meu pai não tem nada a ver com esta horrível conspiração, não é verdade, senhor? - perguntou Valentine, juntando as mãos.

- Não, e no entanto o seu pai, homem habituado às acusações criminais, o seu pai deve desconfiar de que todas estas mortes que desabam sobre a sua casa não são de modo algum naturais. Era ao seu pai que competia velar por si, era ele que devia estar a esta hora no lugar que ocupo; era ele que devia já ter despejado este copo; era ele que devia ter-se erguido contra o assassino. Fantasma contra fantasma... - murmurou à guisa de conclusão.

- Senhor - disse Valentine -, farei tudo para viver porque existem dois seres no mundo que me amam a tal ponto que morreriam se eu morresse: o meu avô e Maximilien.

- Velarei por eles como tenho velado por si.

- Sendo assim, senhor, disponha de mim - disse Valentine, que acrescentou em voz baixa: - Oh, meu Deus, meu Deus, que me irá acontecer?!

- Seja o que for que lhe aconteça, Valentine, não se assuste. Mesmo que sofra e que perca a vista, o ouvido e o tacto, nada receie. Se acordar sem saber onde está, não tenha medo, ainda que ao acordar se encontre em qualquer jazigo ou encerrada num caixão. Recupere rapidamente a sua presença de espírito e diga para consigo: «Neste momento um amigo, um pai, um homem que quer a minha felicidade e a de Maximilien, esse homem vela por mim.»

- Valha-me Deus, que terrível extremidade!

- Valentine, prefere denunciar a sua madrasta?

- Preferiria morrer cem vezes! Oh, sim, morrer!

- Não, não morrerá, e seja o que for que lhe aconteça, promete-me não se queixar, não perder a esperança?

- Pensarei em Maximilien

- A Valentine é a minha filha bem-amada. Só eu a posso salvar e salvá-la-ei.

No cúmulo do terror, Valentine juntou as mãos, porque sentia que chegara o momento de pedir coragem a Deus, e ergueu-se para rezar, murmurando palavras sem nexo e esquecendo que os seus ombros brancos não tinham mais nada a cobri-los além da sua comprida cabeleira e que se via pulsar o seu coração sob a renda fina da camisa de dormir.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069