O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 986 / 1080

Digo aqui e é verdade, porque como não considerava a minha casa suficientemente segura, não achava os notários bastante discretos e as propriedades falam ainda mais alto do que os notários, e como, finalmente, a senhora não tem o direito de comprar nada nem de possuir seja o que for fora da comunhão de bens conjugal, guardei todo esse dinheiro, hoje a sua única fortuna, num cofre cravado no fundo deste armário, em que, para maior segurança, me encarreguei pessoalmente do trabalho de pedreiro.

»Agora - continuou Debray, abrindo primeiro o armário e depois o cofre -, agora, minha senhora, aqui tem oitocentas notas de mil francos cada uma, que como vê, parecem um grosso álbum encadernado em ferro... Juntei-lhes um cupão de juro de vinte e cinco mil francos e para saldo de contas, que, segundo creio, ascende a qualquer coisa como cento e dez mil francos, aqui tem uma ordem de pagamento à vista sobre o meu banqueiro, e como o meu banqueiro não é o Sr. Danglars, pode estar tranquila que a ordem será paga.

A Sr.ª Danglars pegou maquinalmente na ordem à vista, no cupão e nas notas.

Aquela enorme fortuna parecia muito insignificante espalhada ali em cima de uma mesa.

Com os olhos secos, mas o peito cheio de soluços, a Sr.ª Danglars reuniu-a, guardou o estojo de aço na bolsa, meteu o cupão e a ordem de pagamento à vista na carteira, e de pé, pálida e muda, esperou uma palavra meiga que a consolasse de ser tão rica.

Mas esperou em vão.

- Agora, minha senhora - disse Debray -, tem uma existência magnífica, qualquer coisa como sessenta mil libras de rendimento, o que é enorme para uma mulher que não poderá ter casa senão daqui a um ano, pelo menos. É um privilégio para todos os caprichos que lhe passarem pela cabeça, sem contar que se achar a sua parte insuficiente, em atenção ao passado que lhe escapa poderá recorrer à minha. Estou disposto a oferecer-lhe, a título de empréstimo, bem entendido, tudo o que possuo, isto é, um milhão e sessenta mil francos.

- Obrigada, senhor, obrigada - respondeu a baronesa. - Como sabe, acaba de me entregar muito mais do que precisa uma pobre mulher que não conta, senão daqui a muito tempo, pelo menos, reaparecer na sociedade.

Debray mostrou-se momentaneamente surpreendido , mas recompôs-se e fez um gesto que se poderia traduzir como a forma mais delicada de exprimir esta ideia: «Como queira!”





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069