O Conde de Monte Cristo - Cap. 106: A partilha Pág. 991 / 1080

- Portanto, estes mil francos?... - disse, tremendo, Mercédès.

- São metade da importância, minha mãe. A outra virá daqui a um ano.

Mercédès ergueu os olhos ao céu com uma expressão que ninguém saberia exprimir e as duas lágrimas que lhe brilhavam ao canto dos olhos transbordaram sob a sua emoção íntima e correram-lhe silenciosamente ao longo das faces.

- O preço do teu sangue! - murmurou.

- Sim, se for morto - redarguiu, rindo, Morcerf. – Mas garanto-lhe, boa mãe, que, pelo contrário, tenho a intenção de defender ferozmente a pele. Nunca senti tanta vontade de viver como agora.

- Meu Deus! Meu Deus! - exclamou Mercédès.

- Aliás, por que motivo havia de ser morto, minha mãe? Porventura Lamoricière, esse outro Ney do Meio-Dia, foi morto? E Changarnier, foi morto? E Bedeau, foi morto? E Morrel, que nós conhecemos, foi morto? Pense pois na sua alegria, minha mãe, quando me vir regressar com o meu uniforme bordado! Declaro-lhe que nesse aspecto conto ser imponente e que escolhi aquele regimento por vaidade.

Mercédès suspirou e tentou sorrir. Aquela santa mãe compreendia que não lhe ficava bem deixar que o filho suportasse todo o peso do sacrifício.

- Portanto - prosseguiu Albert -, a mãe já tem mais de quatro mil francos garantidos. Ora, com quatro mil francos viverá bem dois anos...

- Achas? - disse Mercédès.

Estas palavras escaparam à condessa, e com uma dor tão verdadeira que o seu autêntico sentido não passou despercebido a Albert. Este sentiu o coração confranger-se-lhe e disse, pegando na mão da mãe, que apertou ternamente nas suas:

- Sim, viverá!

- Viverei! - exclamou Mercédès. - Mas tu não partirás, não é verdade, meu filho? - Minha mãe, partirei - respondeu Albert em voz calma e firme. - Ama-me demasiado para me querer junto de si ocioso e inútil. De resto, já assinei.

- Procederás como for da tua vontade; eu procederei conforme for da vontade de Deus.

- Não de acordo com a minha vontade, minha mãe, mas sim de acordo com a razão e a necessidade. Somos duas pessoas desesperadas, não é verdade? Que é a vida para si, hoje? Nada. Que é a vida para mim? Oh, muito pouco sem a senhora, minha mãe, acredite! Porque sem a senhora juro-lhe que esta vida teria cessado no dia em que duvidei do meu pai e reneguei o seu nome! Enfim, viverei se me prometer ter ainda esperança; se me deixar o cuidado da sua felicidade futura, duplicará a minha energia. Procurarei o governador da Argélia, que é um coração leal e sobretudo essencialmente soldado, e contar-lhe-ei a minha lúgubre história.





Os capítulos deste livro

Marselha - A Chegada 1 O pai e o filho 8 Os Catalães 14 A Conspiração 23 O banquete de noivado 28 O substituto do Procurador Régio 38 O interrogatório 47 O Castelo de If 57 A festa de noivado 66 Os Cem Dias 89 O número 34 e o número 27 106 Um sábio italiano 120 A cela do abade 128 O Tesouro 143 O terceiro ataque 153 O cemitério do Castelo de If 162 A Ilha de Tiboulen 167 Os contrabandistas 178 A ilha de Monte-Cristo 185 Deslumbramento 192 O desconhecido 200 A Estalagem da Ponte do Gard 206 O relato 217 Os registos das prisões 228 Acasa Morrel 233 O 5 de Stembro 244 Itália - Simbad, o marinheiro 257 Despertar 278 Bandidos Romanos 283 Aparição 309 A Mazzolata 327 O Carnaval de Roma 340 As Catacumbas de São Sebastião 356 O encontro 369 Os convivas 375 O almoço 392 A apresentação 403 O Sr. Bertuccio 415 A Casa de Auteuil 419 A vendetta 425 A chuva de sangue 444 O crédito ilimitado 454 A parelha pigarça 464 Ideologia 474 Haydée 484 A família Morrel 488 Píramo e Tisbe 496 Toxicologia 505 Roberto, o diabo 519 A alta e a baixa 531 O major Cavalcanti 540 Andrea Cavalcanti 548 O campo de Luzerna 557 O Sr. Noirtier de Villefort 566 O testamento 573 O telégrafo 580 Meios de livrar um jardineiro dos ratos-dos-pomares que lhe comem os pêssegos 588 Os fantasmas 596 O jantar 604 O mendigo 613 Cena conjugal 620 Projetos de casamento 629 No gabinete do Procurador Régio 637 Um baile de Verão 647 As informações 653 O baile 661 O pão e o sal 668 A Sra. de Saint-Méran 672 A promessa 682 O jazigo da família Villefort 705 A ata da sessão 713 Os progressos de Cavalcanti filho 723 Haydée 732 Escrevem-nos de Janina 748 A limonada 762 A acusação 771 O quarto do padeiro reformado 776 O assalto 790 A mão de Deus 801 Beauchamp 806 A viagem 812 O julgamento 822 A provocação 834 O insulto 840 A Noite 848 O duelo 855 A mãe e o filho 865 O suicídio 871 Valentine 879 A confissão 885 O pai e a filha 895 O contrato 903 A estrada da Bélgica 912 A estalagem do sino e da garrafa 917 A lei 928 A aparição 937 Locusta 943 Valentine 948 Maximilien 953 A assinatura de Danglars 961 O Cemitério do Père-lachaise 970 A partilha 981 O covil dos leões 994 O juiz 1001 No tribunal 1009 O libelo acusatório 1014 Expiação 1021 A partida 1028 O passado 1039 Peppino 1049 A ementa de Luigi Vampa 1058 O Perdão 1064 O 5 de Outubro 1069