A Queda de um Anjo - Cap. 30: Capítulo 30 Pág. 166 / 207

Estava D. Teodora presidindo à limpeza do lagar em que se havia de fabricar o azeite, quando Brás Lobato, ainda empoado da jornada, assomou à porta, e chamou de parte a fidalga.

— O meu homem veio! — exclamou ela. — Faz favor de me ouvir aqui fora, — disse ele à puridade. — E, retirados ao escuro de um bosque de castanheiros, continuou:

— Seu marido está perdido, Sra. morgada.

— Que me diz? — bradou a pálida consorte.

— Estragou-se; dali ao inferno não tem mais que morrer.

— Credo! Então que é?

— Seu marido está tolhido! A mulher que o roubou à Pátria, e à esposa, e aos amigos, está lá numa serra cercada de árvores, e de grades de ferro! Dizem que é a viúva de um general, e bonita como os serafins. Eu ainda a enxerguei pelo braço do fidalgo; ia vestida de branco, e parecia uma estrela.

— Ai! que eu estalo! — exclamou Teodora, apertando a cabeça entre as mãos.

— Seu marido, se a senhora o vir agora, não o conhece. Está mais apanhado do corpo; aquela barriga que ele tinha sumiu-se-lhe. Tem um bigode muito grande, e aqui no queixo uma moita de pêlos como os bodes. Traz os cabelos puxados para cima e retorcidos. Usa óculos à moderna, de oiro, pendurados ao pescoço. O pano da roupa luzia como vidro, e andava apertado nela e puxado à substância que parecia espremido no peso do lagar. Repito: a Sra. morgada, se o vir, não o conhece.

— E então ele está lá com essa mulher? — insistiu soluçando a quebrantada senhora.

— É verdade, lá a tem como uma princesa. Agora já sabe a fidalga no que ele estraga o dinheiro.





Os capítulos deste livro