A Queda de um Anjo - Cap. 37: Capítulo 37 Pág. 204 / 207

Chegou a Paris a boa nova, desacompanhada de pormenores desonrosos. Dizia apenas o feitor do morgado que a fidalga se retirara para Travanca, deixando tudo que encontrara, e levando tudo que trouxera. Lopo de Gamboa industriara o feitor na direcção que havia de dar à carta. Faltou-lhe apurar o desavergonhamento ao extremo de continuar correspondência com o marido de sua prima.

Calisto desandou para Lisboa, prevenindo Tomásia que ocultasse de Ifigénia a indecorosa cena que sua mulher fizera. Na volta de Paris, o morgado aposentou-se no palacete da brasileira. O passeio à Europa limpou-lhe do espírito as teias: é bom desempoeirar os olhos com a viração salutar dos ares de França e Itália. Lisboa pareceu a Calisto Elói terra pequena demais para sacrifícios tamanhos. Emancipou o coração.

Assistiu ainda o deputado a algumas sessões parlamentares. Floreou os seus discursos com as recordações do progresso industrial no estrangeiro. Enlevou-se nas delícias de França, e não andou por muito longe da frase arroubada do Dr. Libório de Meireles na apologia dos esplendores estranhos e lamentações das misérias da Pátria.

Providenciou sobre negócios de sua casa, para que os recursos lhe não minguassem nas pompas do seu viver em Lisboa, e começou um doce viver, não mareado de mínimo dissabor. Renasceu-lhe no espírito, já livre de sobressaltos do coração, o amor à leitura de livros modernos, em que se lhe deparavam luzes e ideias, que ele, a furto, conseguia entrever nas literaturas antigas.





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