A Queda de um Anjo - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 49 / 207

Vi muito, vi tudo, que me abraseavam sedes de aprender, fomes de Ugolino que rompe seus ferros, e se defronta com lautos estendais de loirejantes iguarias. Que delíquios de exultação me tomavam alma! Como eu me sentia a tragar luz e humanidade por aqueles climas onde o supremo arquitecto chove inventos a frouxo e flux! Vi muito, e vi tudo, Sr. presidente. Encheu-se-me o peito de anelos pela sorte da Pátria, e de amores muito seus dela, como de filho que do imo das entranhas lhe quer. Volvi-me no rumo do ninho meu; e, mal me enrubesceram os horizontes desta minha e tão nossa terra de fragrâncias e idílios, assim me coou às fibras do seio um como filtro de melancolia, que me subia aos olhos exsudando lágrimas.

(Calisto Elói, em perigo de rebentar, ri-se. Parte da Câmara ciciou-lhe um sio prolongado. Calisto acomoda-se e desconfia que a maior parte da Câmara é tola.)

O orador: — É que eu, Sr. presidente, muito adentro de alma sentia uns rebates de presságio. Locustas de excruciantíssimos tóxicos, que me estalavam empeçonhando esperanças, enleios, arroubos e dulcíssimas quimeras de ainda ver florejarem os agros da Pátria, estrelarem-se estes céus plúmbeos e rasgarem-se os horizontes à onda fecundante deste ubérrimo torrão. Doeu-me alma, choraram-me olhos, e compreendi a angústia virgiliana do hemistíquio: dulcia linquimus arva. (Muitos apoiados.)

Pois quê, Sr. presidente? Cansariam mágoas a quem se lhe antolhasse ter de ainda ouvir nesta casa voz de homem, de homem nado do ventre deste século, de homem que aqui entrou a verter no gazofilácio do templo do eterno Cristo da eterna liberdade, a dracma ou o talento, a mealha ou o tesouro de sua dedicação!





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