Repito, Sr. presidente, quem deixara de estilar bagas de pranto, ao aportar em chão português com o presságio de que, alguma hora, havia de ouvir neste
sancta-sanctorum das luzes, blasfémias contra o luxo que é a artéria, a aorta do corpo industrial? Quem quisera, por tal preço, dizer às nações cultas: «Eu sou daquele céu, nasci naquele jardim de magas, onde Camões poetou glórias para invejas do mundo. Sou da terra dos laranjais onde suspirou Bernardim. Sou da raça dos bravos que perpetuaram Aljubarrota, Atoleiros, Valverde. (Apoiados prolongados.) Na minha terra… (quem quererá já dizer?) nasceram Gamas, nasceram Cabrais e Castros, e Albuquerques, Nunes e Regras.» Quem, Sr. presidente? (
Calisto pede a palavra.)
O orador: — Que é o luxo? Perguntai ao selvático das florestas ínvias o que é o seu hamac e ao europeu o que é o seu almadraque de plumas, tão grato e flácido às ondulações corpóreas. Perguntai às belas europeias que lhes faz a grinalda de brilhantes, e às belas da Florida que prazer lhes insinuam os vítreos idornos de variegadas cores. Oh! o luxo, o luxo, senhores, é marco miliário de civilização, a pomba que se volita da arca, e se vai espanejando de asas por céus e terras além, recobrada dos pavores primeiros, e saltitando de frança em frança. Oh! que rejúbilos de coração para quem fadado lhe foi de cima o entender e amar, que o compreender é amar, na frase incisiva e galharda de Vítor Hugo!
Sr. presidente!