A Queda de um Anjo - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 65 / 207

Diz ele algures: «Não podem as mulheres convencer-se de que Pasifaé, bem que esposa de um rei, se enamorasse apaixonadamente de um touro; ao passo que estão vendo, sem espanto, mulheres que menosprezam maridos beneméritos e honrados, e se dedicam a homens bestificados pela libertinagem.» Asseveram-me os pilotos peritos nestes mares verdes e aparcelados da capital que há disto muito por aqui.

— É possível… — balbuciou D. Catarina.

— E porque não há-de ser, se algumas senhoras conheço eu casadas — tornou Calisto — que andam com os braços nus fora das alcovas do seu leito nupcial!…

— E isso que tem? — atalhou a dama — é a moda…

— A moda, que franqueia as portas aos ruins desejos, às cogitações viciosas, aos afrontamentos, ao pudor. Aquela filha de Pitágoras, a quem encareceram o feitio do braço, respondeu: «Belo é; mas não para ser visto.» Na Andrómaca de Eurípedes, Hermione exclama: «Infelicitei-me, consentindo que de mim se achegassem mulheres perversas.» Quantas damas de hoje em dia poderão dizer, e na consciência o estarão dizendo: «Consenti, para minha desgraça, que perversos homens convizinhassem de mim!…»

— Mas onde quer V. Exa. chegar com o seu discurso? — interrompeu a filha do desembargador.

— À razão da Sra. D. Catarina, minha senhora.

— Como assim?! Quem o autoriza…

— As lágrimas de seu Exmo. pai.

— Veja lá, Sr. Barbuda, que se não equivocasse com as lágrimas do meu pai… A minha reputação e costumes repelem semelhantes alusões, se o são.





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