Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 18: XVIII - A Infamada Pág. 100 / 174

XVIII - A Infamada

Estava Ângela escrevendo a um dos três amigos de seu marido, rogando que a não considerassem esposa infiel, nem difamassem seu nome, querendo forçá-la a entrar num convento, à imitação das mulheres delinquentes. Prometia ela defender-se, se se marido a quisesse escutar, a sós, bastando-lhe de sua inocência o testemunho de Deus, cuja providência, em tão apertado lance, lhe dava coragem para encarar de rosto qualquer desgraça, menos a de entrar no convento com a nódoa de adúltera.

A carta ia ser fechada, quando se anunciou Atanásio, com os seus amigos Pantaleão e Joaquim António.

O marido da Ruiva declarou que o amigo Hermenegildo teimava em que sua mulher entrasse no convento que lhe fosse escolhido por eles, representantes de suas ordens; e que, no caso de a senhora se negar a obedecer a tão justo mandado, fizesse de conta que não tinha marido, nem casa, nem fortuna, porque todos os teres e haveres de seu homem estavam hipotecados, vendidos e alienados, como se provaria em juízo com documentos da maior validade.

Escutou-os Ângela, e disse serenamente:

- Mandam-me portanto sair?

- Sim, se a senhora não quiser ir para o convento.

- Não vou.

- Então, muito nos custa dizer-lhe que...

- Despeje a casa? - concluiu Ângela.

- Sim..., se a senhora... - repetiu Atanásio. - Bem sabe que a honra dum homem... Seu marido tem de dar contas à sociedade...

- E a Deus - ajuntou Ângela.

- Isso de Deus... - remoneou Joaquim José António.

- Não há? - perguntou ela.

- Não sei se há, nem se não há. O que sei é que ele não se mete cá nestas coisas.

- Se a senhora está inocente - interveio Pantaleão - prove-o. Diga a quem deu 1.650$000 réis.

- A um pobre.

- Mas quem era o pobre? Saibamos isso...





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