Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 28: XXVIII - Confidências do cego Pág. 159 / 174

- O doutor por lá anda a moirejar na vida de cabana em cabana... - disse o conde.

- É verdade. Tem dias que sai ao romper de alva e recolhe alta noite - respondeu Ângela.

- Que voz a sua, minha senhora! - repisou o cego bamboando a cabeça. - Faz-me sentir espantosas alucinações!...

- Mas eu queria que a minha voz o não mortificasse, senhor conde...

- Não me mortifica; enche-me o coração de...

- Saudades? - perguntou Joana com susto, enquanto Ângela lhe fazia sinal para não insistir em tais indagações.

- Saudades... e agonias sem nome... Hei de dizer a verdade a vossas excelências... Na minha mocidade amei uma dama, cuja voz era a da Sr.ª D. Maria; e tive uma filha, que também assim falava... Agonias e saudades... é o que me resta de ambas... Está bom... - suspendeu-se o conde sacudindo a cabeça. - Está bom!... Ora que nem aqui me deixam estas funestas memórias!... Eu estava a dizer que dei muito incómodo esta noite... Amanhã deve aí chegar o meu escudeiro, um criado que tem quarenta e tantos anos de casa, que me tem aturado muito, e que ficará ao pé da minha cama para vossas excelências e a sua criada poderem dormir descansadas.

Ângela, olhando para Joana, abriu a boca em atitude de susto, quando ouviu dizer que vinha o escudeiro. João Pedro reconhecê-la-ia logo, e com qualquer palavra de espanto perturbaria o ânimo do pai.

- Seu marido é natural do Porto, Sr.ª D. Maria? - perguntou o cego, após longa pausa.

- Sim, senhor - titubeou Ângela.

- E vossa excelência também?

- Sim, senhor.

- Queria-lhes fazer uma pergunta; mas bem conheço que é ociosa...

- Que era, senhor conde? - insistiu Joana.

- Se tiveram alguma vez notícia de existir no Porto um brasileiro de Barrosas, de quem me não lembra o nome, casado com uma senhora chamada Ângela, que depois enviuvou, e casou segunda vez.





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