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Ângela fez à cunhada um sinal negativo.
- Nada, não conhecemos, nem ouvimos falar...
- Logo vi. Vão lá saber em terra tamanha...
- Mas, se se pedissem informações... - lembrou Joana.
- Já as mandei procurar...
- E não soube nada?
- Soube o que disse, minhas senhoras: que Ângela enviuvara, casara segunda vez, e saíra não se sabia para onde.
- Vossa excelência mandou há muito saber? - perguntou Joana.
- Há três meses o meu escudeiro; por lá andou cinco dias.
- E essa senhora... - balbuciou Ângela.
- Seria parenta do senhor conde? - interveio Joana.
- Era uma infeliz, filha dum homem que tinha sido bom, e infortúnios grandes desvairaram e perverteram. Afinal, esse homem, como se tinha sepultado vivo, perdeu nas trevas, onde se abismou, alma, coração, honra e tudo. Deus, que o precipitara, levantou-o um dia, não sei se para lhe acrescentar o suplício, renascendo-lhe o coração e sentimentos de amor a sua filha. Procurou-a então; mas... tarde.
Escutaram-no silenciosas e estupefatas as duas senhoras.
A conversação foi interrompida pela entrada do cirurgião; porém, o conde, azado o ensejo, prosseguiu:
- Sr. Costa, eu quero dever-lhe uma grande fineza!
- Mande-me vossa excelência.
- Estas senhoras já me ouviram com muita paciência e compaixão falar duma filha que tive...
Francisco olhou com assombro para ambas.
Simão de Noronha continuou:
- Hei de pedir-lhe que empenhe as suas amizades e relações no Porto para descobrir-se o destino de uma senhora, de nome Ângela, casada que foi com um brasileiro, já falecido, e casada depois com não sei quem. O meu escudeiro, que chega talvez amanhã, pode dizer a vossa senhoria o nome do brasileiro, com o qual a indagação nos levaria a descobrir a paragem de minha filha.