Quem primeiro revelou a Francisco o amor de Ângela foi Joana. Acabou de lhe contar a confidencia da fidalga, e disse:
- Agora, Francisco, é necessário que vás para o Porto, embora a aula se abra em outubro. Deixa que o tempo desfaça esta criancice da D. Ângela. Eu disse-lhe o que devia: mas ela respondeu-me que havia de ser tua esposa, se a tu amasses. Já viste inocência assim? Eu fiquei espantada a olhar para a menina, e de repente passou-me pelo espírito uma nuvem negra. Deus me livre que tu, meu querido irmão, não pudesses vencer-te, se chegasses a imaginar possível casar com a filha do general Noronha, com a sobrinha de D. Beatriz, tão soberba da sua fidalguia!
Francisco escutou sem assombro e sem interrompê-la a extensa revelação de Joana. Passados momentos de serena reflexão, disse:
- Eu sabia isso...; ainda assim, dás-me uma triste novidade.
- Sabia-lo? Por quem?!
- Por mim. Tinha-mo dito a minha alma. Eu pensava nela... - vê que doidice! - pensava em Ângela imaginando a felicidade do homem que ela amasse. Era uma inveja que me envergonhava, por isso ta não confessei. Até de mim a quisera eu esconder; mas o absurdo lutava com o absurdo, e não sei quem venceu... Um dia sonhei que a via chorando, e acordei a chorar. Deste este momento, senti que adorava Ângela. Isto foi há três anos, lembras-te? Fui para o Porto, e lá fiquei todo ano. Quando voltei e a vi, desejei morrer. Um dia entrou-me no coração a certeza de que era amado... Por quem? perguntas tu, Joana; e bem vejo que estás sorrindo da vaidade do teu pobre irmão!.