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Capítulo 10: X - O Poeta

Página 53
.. eu te digo como foi... Estávamos na igreja matriz, nas trevas do sábado santo. Eu sabia em que teia de altar ela tinha ajoelhado; mas entrevia-lhe escassamente o vulto. Ao tanger da campainha, fez-se a claridade súbita no templo, e vi os olhos dela cravados nos meus, que se abaixaram respeitosos. Sabes tu que delírio de piedade me assalteou? Ajoelhei, quando todos se levantavam e davam boas-festas. Ajoelhei no maior sombrio da nave... e chorei. Aqui tens a revelação que os olhos de Ângela ensinavam à minha alma... Que pensas tu agora de mim? - prosseguiu o moço, após longa pausa de reconcentração. - Receias que eu apareça diante de Ângela com o colo erguido pela vaidade de ser amado? Cuidarás que eu principiei a acastelar ilusões por esse céu além, e a descer delas para o paradoxo dum casamento? Mal me conheces então, Joana! Vê se me compreendes isto... Acho sempre o teu espírito aberto a certas coisas confusas que eu digo, e não sei dizer mais inteligivelmente. Olha, minha irmã, eu não sei se o estudo envelhece o coração; figura-se-me que sim. A alma não; que essa é imortal, inalterável e inviolável à destruição do tempo. Em mim conheço o coração atrofiado, e a alma viventissima. Como homem de alma adoro Ângela, ilumino-a à luz que radia das minhas crenças em Deus. Como homem de coração não a sacrificaria, nem me sacrificaria. Impulso que me arroje a querê-la ouvir dizer que me ama não o sinto; desejo de encontrar aquela bela imagem, no silêncio do espaço em que a tenho visto nas minhas noites de vigília, entender os murmúrios que ressoam o seu nome, vesti-la das aéreas roupagens que sonhou a exaltada poesia do oriente, é isso, é isso o meu amar, o meu delirar, a minha inofensiva vertigem, que não tem nada que ver com o nascimento, nem com os haveres de Ângela.

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pág. 53 (Capítulo 10)

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 53

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174