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Capítulo 10: X - O Poeta

Página 51
Não se recomenda por gentileza, posto que lhe sobejem graças estimáveis. Basta-lhe os olhos negros e a tristeza, a palidez e o nunca sorrir-se. É poeta; mas as suas estrofes não se imprimem; são lágrimas; e desconhecidas, porque ninguém o viu chorar. Estuda desde os treze anos com inteligência precoce. A mente de seu pai era faze-lo frade em ordem pobre; mas o mocinho esperava que o seu estudo lhe valesse formatura gratuita em Coimbra.

Mudadas as instituições políticas, e falecido seu pai, Francisco aceitou as sopas oferecidas por seu cunhado, merceeiro escasso de posses, e sempre infeliz nas empresas comerciais. José Maria dos Santos, como não tivesse filhos, prometia cortar pelas precisões domésticas para formar o cunhado na escola médico-cirúrgica do Porto. Esta dependência mortificava o estudante, não por índole rebelde à gratidão, senão que via sua irmã afadigada no labor da costura para auxiliar as despesas no Porto.

Joana era a mais doce e resignada criatura que ainda a Providência deparou no seio de uma família mal sorteada dos bens deste mundo. Seu marido tinha quarenta e seis anos, e ela vinte e três. Não distinguireis entre a filha extremosa e consorte desvelada. Acariciava-o e respeitava-o como a pai. Não sabemos que grau marcava a temperatura do seu amor de esposa: o certo é que José Maria, golpeado de reveses no seu negócio, dizia que Deus o compensava sem medida, premiando-o com o oiro do coração de sua mulher, em exemplo de paciência, suprema riqueza do pobre, moeda sagrada com que se negoceia o céu.

Francisco adorava sua irmã; todavia, para estar triste, escondia-se dela. Joana queria que todos agradecessem a Deus, quando se levantavam com saúde, e se ajuntavam à volta da mesa do almoço. Se via triste o marido ou irmão, dizia: “Sois ingratos ao Senhor.

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 51

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174