Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 16: XVI - Por causa do Fígaro Pág. 88 / 174

Por cortar demoras, não nos deteremos a descrever a bulha que a felicidade de Rita e do irmão fazia na casa. Fialho saiu logo para o Porto a prover-se dos aprestos para o noivado, e então comprou os 6.500$000 réis de brilhantes, como consta do primeiro capítulo desta crónica social, e cortes de seda, e peças de veludo, e quanto lhe depararam as casas francesas, e modistas escrituradas que levou consigo para a quinta.

No meio desta azáfama, Ângela estava como insensível, e, na cama, onde uma febre lenta a prostrara.

Vitorina, exagerando o susto, já era de parecer que se desligasse a ama da sua palavra, e não casasse.

- Que me importa a mim?! - disse Ângela. - Dum ou doutro modo hei de acabar breve. O coração já não o sinto. Não tenho saudades de nada. Morro, sem faltar à minha palavra. Se Deus me não der melhor vida depois, é que não há céu.

Ângela enganou-se. Ao fim de quinze dias estava cansada de pensar na sua desgraça, e indiferente, senão identificada. Estas refundições são vulgaríssimas. É minha opinião que as lágrimas deslaçam e rompem os liames de certas crenças e esperanças; porém, como à vida se fazem mister outros, opera-se uma renovação de vínculos que nos atam a outras preocupações. Nas índoles feminis são por via de regra tais renovações mais temporãs, em razão de operarem nelas as lágrimas em maior cópia. E se me não engano, há aí coração de senhora que pode frutificar colheitas variadas cada ano, duas, três e mais, consoante a regra de lágrimas. E uma aleivosia que o mundo ignaro lhes assaca de versatilidade não é mais que ilusões que se afogam e renovos que desabrocham assim que as lágrimas se estancam.

Postas estas coisas como explicação de outras relativas à filha do general Noronha, cumpre saber que no dia 4 de novembro de 1841, pelas 9 horas da manhã, contraíram o sacramento do matrimónio D.





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