E Ângela via tudo aquilo com o falso contentamento das viúvas do Malabar que assistem à disposição das achas para a fogueira que há de assá-las.
Hermenegildo esperava que a sua hóspeda lhe desse azo a falar-lhe em casamento; ela, porém, esquivava os lanços preparados pouco engenhosamente pela irmã do noivo.
Era fatal e indeclinável o cálix!
Uma vez, o brasileiro, esporeado pela mana, afoitou-se a perguntar a D. Ângela se queria ser sua esposa.
- Sim, senhor - balbuciou ela, rápida e laconicamente como o suicida que fecha os olhos, e se despenha, antes que a reflexão lhe pinte os horrores da queda.
Hermenegildo emparveceu mais que o comum nos sujeitos da sua natureza. O sorriso que lhe entreabriu as queixadas parecia escancarar os alçapões daquele peito carecido de ar, como se o júbilo o afogasse.
A careta era feia; mas amorosíssima. Havia ali mescla de sátiro cupidinoso e de amante soez. Ângela não viu a fachada do coração que sonhoreava. Se naquele instante o encarasse, bem pode ser que a Senhora dos Remédios fosse lograda.
Dado o dilacerante sim, a ideal amante de Francisco Costa, a maviosa cismadora das Esperanças, entrou no seu quarto, e não pode chorar. Sentia um peso de estupidez, uma sensação na cabeça, como um capacete de lama, permita-se a figura.
Vitorina foi eminentíssima em insartar argumentos sobre argumentos convincentes de que Ângela havia de ser feliz, embora não amasse o marido, e simplesmente o estimasse como homem que a levantava com sua riqueza à independência, à consideração pública, e ao futuro gozo de ser viúva: “porque ele, dizia a criada, doutro ataque vai-se embora”.
Numa tragédia desta ordem, como se vê, o cômico está sempre negaceando à gente por detrás daquele Fialho, o qual, apesar dos chacoteadores, tinha ares de bom homem, e talvez desse de si um marido regular, se se ajoujasse a uma fêmea da sua espécie.