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Capítulo 16: XVI - Por causa do Fígaro

Página 87

E Ângela via tudo aquilo com o falso contentamento das viúvas do Malabar que assistem à disposição das achas para a fogueira que há de assá-las.

Hermenegildo esperava que a sua hóspeda lhe desse azo a falar-lhe em casamento; ela, porém, esquivava os lanços preparados pouco engenhosamente pela irmã do noivo.

Era fatal e indeclinável o cálix!

Uma vez, o brasileiro, esporeado pela mana, afoitou-se a perguntar a D. Ângela se queria ser sua esposa.

- Sim, senhor - balbuciou ela, rápida e laconicamente como o suicida que fecha os olhos, e se despenha, antes que a reflexão lhe pinte os horrores da queda.

Hermenegildo emparveceu mais que o comum nos sujeitos da sua natureza. O sorriso que lhe entreabriu as queixadas parecia escancarar os alçapões daquele peito carecido de ar, como se o júbilo o afogasse.

A careta era feia; mas amorosíssima. Havia ali mescla de sátiro cupidinoso e de amante soez. Ângela não viu a fachada do coração que sonhoreava. Se naquele instante o encarasse, bem pode ser que a Senhora dos Remédios fosse lograda.

Dado o dilacerante sim, a ideal amante de Francisco Costa, a maviosa cismadora das Esperanças, entrou no seu quarto, e não pode chorar. Sentia um peso de estupidez, uma sensação na cabeça, como um capacete de lama, permita-se a figura.

Vitorina foi eminentíssima em insartar argumentos sobre argumentos convincentes de que Ângela havia de ser feliz, embora não amasse o marido, e simplesmente o estimasse como homem que a levantava com sua riqueza à independência, à consideração pública, e ao futuro gozo de ser viúva: “porque ele, dizia a criada, doutro ataque vai-se embora”.

Numa tragédia desta ordem, como se vê, o cômico está sempre negaceando à gente por detrás daquele Fialho, o qual, apesar dos chacoteadores, tinha ares de bom homem, e talvez desse de si um marido regular, se se ajoujasse a uma fêmea da sua espécie.

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Capa do livro Os Brilhantes do Brasileiro
Páginas: 174
Página atual: 87

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
I - Aflições sudoríferas 1
II - 1.600$000 Réis! 5
III - Retratos do natural 12
IV - Tribunal de honra 15
V - Considerações plásticas 20
VI - Amigos do seu amigo 26
VII - Revelações cómicas 32
VIII - Revelações tristes 36
IX - Amores fatais 41
X - O Poeta 48
XI - Sonhos e esperanças 55
XII - A Fuga 59
XIII – Desamparo 63
XIV - Via dolorosa 68
XV - Meio milhão! 76
XVI - Por causa do Fígaro 85
XVII - História dos brilhantes 90
XVIII - A Infamada 100
XIX - Amor-próprio 106
XX - O Doente e o doutor 110
XXI - Morre Hermenegildo 119
XXII - Felicidade suprema 123
XXIII - Os homens honestos 132
XXIV - A Opinião pública 135
XXV - O Cego 141
XXVI - A Providência 145
XXVII - Vem rompendo a luz 149
XXVIII - Confidências do cego 154
XXIX - Luz! 162
XXX – Finalmente 168
Conclusão 172
Epílogo 174