- É verdade!... - recordou Ângela com muita amargura. - Como há de ser isto? Eu queria dá-las a Joana.
- Dá-las?... e se seu marido perguntasse por elas?
- Respondia que as dei.
O tom severo desta resposta forçou a criada a silêncio.
Ângela voltou à sala, apertou entre as suas as mãos da viuva, e disse-lhe com veemente solenidade:
- A minha amiga vai jurar pela memória de seu marido que não dirá a seu irmão que me viu.
- Juro, minha senhora.
- E não lho dirá por que o vermo-nos complicaria o infortúnio de ambos.
- Não era preciso lembrar-mo vossa excelência.
- E promete-me aqui vir amanhã à mesma hora?
- Sim, minha senhora.
- Então vá, e creia que tem aqui ao pé da minha alma de irmã a alma de seu marido. Eu hei de melhorar a sua sorte, se a senhora nunca esquecer o seu juramento.
- Não esquecerei, Sr.ª D. Ângela.
Saiu Joana; e a esposa do brasileiro abriu um estojo de veludo, que continha o adereço que o marido lhe dera. Examinou as peças, procurando uma, cujas pedras se desencravassem com menos custo. Escolheu a pulseira, e dela com os bicos de tesoura extraiu um brilhante. Chamou Vitorina, e disse-lhe:
- Vai vender esta pedra a um ourives.
- Vender?!... - objetou com espanto a criada.
- Sim, vender.
- Teremos novas desgraças, minha senhora?
- Não. Temos desgraças antigas a remediar. Faz o que te mando, Vitorina, senão, vou eu.
A criada sentiu-se impelida por irresistível força. Ângela, quando mandava com império, fazia lembrar à velha a soberba e inflexível Maria d’Antas.
Saiu Vitorina, examinando, na rua das Flores, as ourivesarias mais abastecidas.