Os Brilhantes do Brasileiro - Cap. 17: XVII - História dos brilhantes Pág. 94 / 174

Vossa excelência disse-me que as fechasse na cômoda, porque eram coisas antigas que já se não usavam; até seu marido, nessa ocasião lembrou que o meu melhor era trocá-las por enfeites modernos.

- É verdade!... - recordou Ângela com muita amargura. - Como há de ser isto? Eu queria dá-las a Joana.

- Dá-las?... e se seu marido perguntasse por elas?

- Respondia que as dei.

O tom severo desta resposta forçou a criada a silêncio.

Ângela voltou à sala, apertou entre as suas as mãos da viuva, e disse-lhe com veemente solenidade:

- A minha amiga vai jurar pela memória de seu marido que não dirá a seu irmão que me viu.

- Juro, minha senhora.

- E não lho dirá por que o vermo-nos complicaria o infortúnio de ambos.

- Não era preciso lembrar-mo vossa excelência.

- E promete-me aqui vir amanhã à mesma hora?

- Sim, minha senhora.

- Então vá, e creia que tem aqui ao pé da minha alma de irmã a alma de seu marido. Eu hei de melhorar a sua sorte, se a senhora nunca esquecer o seu juramento.

- Não esquecerei, Sr.ª D. Ângela.

Saiu Joana; e a esposa do brasileiro abriu um estojo de veludo, que continha o adereço que o marido lhe dera. Examinou as peças, procurando uma, cujas pedras se desencravassem com menos custo. Escolheu a pulseira, e dela com os bicos de tesoura extraiu um brilhante. Chamou Vitorina, e disse-lhe:

- Vai vender esta pedra a um ourives.

- Vender?!... - objetou com espanto a criada.

- Sim, vender.

- Teremos novas desgraças, minha senhora?

- Não. Temos desgraças antigas a remediar. Faz o que te mando, Vitorina, senão, vou eu.

A criada sentiu-se impelida por irresistível força. Ângela, quando mandava com império, fazia lembrar à velha a soberba e inflexível Maria d’Antas.

Saiu Vitorina, examinando, na rua das Flores, as ourivesarias mais abastecidas.





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